O que é catarse?
Segundo os dicionários, catarse provém do grego “kátharsis” e é utilizado para designar o estado de libertação psíquica que o ser humano vivencia quando consegue superar algum trauma como medo, opressão ou outra perturbação psíquica. Através de terapias clínicas como a hipnose ou a regressão, é possível resgatar as memórias que provocaram o trauma, levando o indivíduo a atingir diferentes emoções que podem conduzir à cura. Em momentos assim é que a arte se capaz de atingir as pessoas de uma forma única. É algo parecido como uma comunhão. E isso é feito em todas as religiões, onde a alma se purifica, faz um expurgo espiritual. Não a toa que o doc sobre o último show da turnê mundial do Depeche Mode tem o nome de “Spirits in the forest”. É mais do que uma alusão ao nome do álbum que é título da turnê. É aquele toque que a alma precisa para consolidar um momento único, capaz de dar sentido a vida.
A turnê que incluiu até o Brasil terminou no anfiteatro de Berlim, acostumado a receber shows de megaestrelas devido ao seu formato que permite uma acústica sem igual. O DM percebeu isso e acostumado a plateias de 50.000 pessoas preferiu reduzir o espaço para o formato de anfiteatro e oferecer uma experiência sensorial maior. O show em si não tem pirotecnia, efeitos especiais, lasers, pessoas voando, explosões e papel picado. Eles pensaram bem em usar metodicamente vídeos que pontuassem histórias das músicas e luzes para aguçar os sentidos e aproximar ainda mais a plateia. Para colocar os fãs ainda mais devotos e os iniciados em estado total de êxtase. Trabalho feito com sucesso e que provavelmente foi o melhor espetáculo que qualquer um tenha visto na vida.
O filme é a confirmação disso e o diretor Anton Corbijn, um ex-fotógrafo da NME e acostumado a trabalhar no mundo do pop rock com nomes como o U2 e Front 242, é também a alma visual do Depeche Mode. Ele é o suporte que deu uma identidade especial para banda desde os tempos de “Violator”, um dos álbuns mais populares. Mas não é a estética conhecida que determinou a narrativa e sim o roteiro. “Spirits in the forest”, apesar de retratar um show, não fala dos músicos, fala do público e para o público. E nesse mote que seis vidas de países distantes, se abrem, se emocionam e se confortam, colocando depoimentos como se fossem separados na maternidade.
Indra vem da Mongólia. Uma guia turística de apenas 22 anos que conseguiu aprender inglês através das músicas do Depeche Mode. Tem uma vida simples com a sua avó e se interessou pelas melodias. Correu atrás e se identificou depois com as letras, seus significados em uma vida humilde de um país fechado até anos atrás. Daniel é brasileiro, mas vive em Berlim. Viveu todas as mazelas dos dois primeiros presidentes eleitos pós ditadura militar. Nesse meio tempo descobriu sua orientação sexual. Liz é uma afro-americana que deixou o interior do país para Los Angeles por auto identificação e realização de vida. Ela levou os dois filhos na jornada e teve que conviver com um agressivo câncer de mama. Christian vem da Romênia e é um típico “nerd”. O problema está em como ser um nerd em um país fechado para o capitalismo anos atrás? Como descobrir culturas, gostos, tecnologias, arte, ter a mente aberta vivendo em um lugar onde nada além do necessário (até comida e papel higiênico eram problemas) é oferecido? A quinta personagem é a francesa Carine que tem um episódio de vida incomum. Em um acidente, aos 25 anos, perdeu toda a memória anterior. Perdeu também sua motricidade e mais com que a transformasse em um bebê em um corpo de mulher. Sua cura começou ao perceber que a única coisa não apagada da memória foram as músicas do Depeche Mode que ela adorava. O sexto e de história mais carismática, é a do colombiano Dizken. Um fã desde os primórdios fez vídeos com seus filhos viralizarem ao fazer versões rústicas das músicas e sem instrumentos, usando apenas brinquedos e materiais que iriam para o lixo, como garrafas pet. Seus companheiros nessa banda são os filhos (na época dos vídeos, por volta de 9 anos e hoje com 14) que agora vivem com a mãe nos Estados Unidos. Eles estão separados há dois anos e por causa da distância só conseguem alguns momentos pela internet e pessoalmente duas vezes ao ano.
Segundo os dicionários, catarse provém do grego “kátharsis” e é utilizado para designar o estado de libertação psíquica que o ser humano vivencia quando consegue superar algum trauma como medo, opressão ou outra perturbação psíquica. Através de terapias clínicas como a hipnose ou a regressão, é possível resgatar as memórias que provocaram o trauma, levando o indivíduo a atingir diferentes emoções que podem conduzir à cura. Em momentos assim é que a arte se capaz de atingir as pessoas de uma forma única. É algo parecido como uma comunhão. E isso é feito em todas as religiões, onde a alma se purifica, faz um expurgo espiritual. Não a toa que o doc sobre o último show da turnê mundial do Depeche Mode tem o nome de “Spirits in the forest”. É mais do que uma alusão ao nome do álbum que é título da turnê. É aquele toque que a alma precisa para consolidar um momento único, capaz de dar sentido a vida.
A turnê que incluiu até o Brasil terminou no anfiteatro de Berlim, acostumado a receber shows de megaestrelas devido ao seu formato que permite uma acústica sem igual. O DM percebeu isso e acostumado a plateias de 50.000 pessoas preferiu reduzir o espaço para o formato de anfiteatro e oferecer uma experiência sensorial maior. O show em si não tem pirotecnia, efeitos especiais, lasers, pessoas voando, explosões e papel picado. Eles pensaram bem em usar metodicamente vídeos que pontuassem histórias das músicas e luzes para aguçar os sentidos e aproximar ainda mais a plateia. Para colocar os fãs ainda mais devotos e os iniciados em estado total de êxtase. Trabalho feito com sucesso e que provavelmente foi o melhor espetáculo que qualquer um tenha visto na vida.
O filme é a confirmação disso e o diretor Anton Corbijn, um ex-fotógrafo da NME e acostumado a trabalhar no mundo do pop rock com nomes como o U2 e Front 242, é também a alma visual do Depeche Mode. Ele é o suporte que deu uma identidade especial para banda desde os tempos de “Violator”, um dos álbuns mais populares. Mas não é a estética conhecida que determinou a narrativa e sim o roteiro. “Spirits in the forest”, apesar de retratar um show, não fala dos músicos, fala do público e para o público. E nesse mote que seis vidas de países distantes, se abrem, se emocionam e se confortam, colocando depoimentos como se fossem separados na maternidade.
Indra vem da Mongólia. Uma guia turística de apenas 22 anos que conseguiu aprender inglês através das músicas do Depeche Mode. Tem uma vida simples com a sua avó e se interessou pelas melodias. Correu atrás e se identificou depois com as letras, seus significados em uma vida humilde de um país fechado até anos atrás. Daniel é brasileiro, mas vive em Berlim. Viveu todas as mazelas dos dois primeiros presidentes eleitos pós ditadura militar. Nesse meio tempo descobriu sua orientação sexual. Liz é uma afro-americana que deixou o interior do país para Los Angeles por auto identificação e realização de vida. Ela levou os dois filhos na jornada e teve que conviver com um agressivo câncer de mama. Christian vem da Romênia e é um típico “nerd”. O problema está em como ser um nerd em um país fechado para o capitalismo anos atrás? Como descobrir culturas, gostos, tecnologias, arte, ter a mente aberta vivendo em um lugar onde nada além do necessário (até comida e papel higiênico eram problemas) é oferecido? A quinta personagem é a francesa Carine que tem um episódio de vida incomum. Em um acidente, aos 25 anos, perdeu toda a memória anterior. Perdeu também sua motricidade e mais com que a transformasse em um bebê em um corpo de mulher. Sua cura começou ao perceber que a única coisa não apagada da memória foram as músicas do Depeche Mode que ela adorava. O sexto e de história mais carismática, é a do colombiano Dizken. Um fã desde os primórdios fez vídeos com seus filhos viralizarem ao fazer versões rústicas das músicas e sem instrumentos, usando apenas brinquedos e materiais que iriam para o lixo, como garrafas pet. Seus companheiros nessa banda são os filhos (na época dos vídeos, por volta de 9 anos e hoje com 14) que agora vivem com a mãe nos Estados Unidos. Eles estão separados há dois anos e por causa da distância só conseguem alguns momentos pela internet e pessoalmente duas vezes ao ano.
E com histórias tão distintas e países tão distantes, que
estes fãs costuram dilemas, exorcizam seus passados e mostram momentos que nos
dão a impressão de que as nossas vidas não são ruins comparadas com as deles. Cada
uma delas tem alento e identificação com alguma música do DM que é simplesmente
atemporal, capaz de emocionar a filha mais velha de Dicken, com 14 anos e chora
ao se encontrar nas letras. Todos acham que há aquela música que parece feita
pensando especialmente na nossa vida. Aí entram os momentos do show em si, com
Martin, Dave e Alan em estado puro falando de religiosidade, culpa, amores,
política, envolvimento e cada fase de nossas vidas estão nelas. É impossível
não ser transportado para aquele dia de março do ano passado, no Allianz Park. “Walking
in my shoes”, “Precious”, “Enjoy the silence”, “Going backwards”, “Cover me”, “Where’s
the revolution”, “Everything counts”, o cover de Bowie, devidamente homenageado
em “Heroes” estão lá na integra.
Nessa costura, todos os seis personagens se realizam, se
purificam e expurgam seus esqueletos guardados por anos para que a vida possa
fazer mais sentido, depois. Eles são pessoas comuns, com problemas incomuns e
que precisavam e soluções incomuns. Graças à música podemos encontrar abrigo, comunhão
e viver uma experiência sem igual como a mais radical das montanhas-russas.
Talvez essa seja a melhor explicação para uma pergunta: “Por que pagar para
talvez só enxergar os artistas tão longe, como se fossem bonequinhos?”. A
resposta mais viável está no quanto de emoção sua cabeça e sua mente estão
abertos para viver um momento de experiência que não se faz todos os dias e o
quanto essa experiência é capaz de expurgar o que nosso corpo guarda de ruim
para poder exalar para o mundo o que há de melhor em nós. Isso é catarse. O
mundo precisa de mais momentos de catarse em cada ser humano deste planeta, para
que ele viva e sobreviva com mais harmonia.