Aloisio Santos _______________
Jurar por todos os deuses, não comentar sobre um reality show, todo mundo é capaz, mas infelizmente, dados os acontecimentos que fizeram o BBB10 (ou seja, haja saco para tanto) impedem qualquer promessa. Todos sabem que, por onde zapearmos, mesmo na TV por assinatura, há uma enxurrada de programas similares. Alguns deles chegam a ter praticamente 100% de sua programação voltada para esse tipo de exibição. Mas o que o programa global, que há 10 anos serviria como um tapa-buraco na época de férias da emissora, tem para se comentar?
Antes, colocar várias pessoas literalmente enjauladas e longe de qualquer contato externo tinha um quê de experiência antropológica. Ver o que o comportamento humano é capaz de fazer quando desconhecidos teriam que se atuar como em um verdadeiro casamento. A idéia até que era legal, mas com o passar do tempo surgiu a sombra do cansaço e com as edições seguintes, a necessidade de mexer com as regras ficou inevitável. E claro, o mundo mudou nesses últimos 10 anos. Pelo menos na forma como os acontecimentos aparecem e são divulgados. Surgiram as redes sociais que, de alguma forma, fizeram da internet o Big Brother, versão mundial e o programa teria de “seguir” (palavrinha bem atual) a essa nova realidade. O problema é que as formas de se ver o mundo mudaram, menos as pessoas, daí o grande problema. Há de se falar que a décima edição do Big Brother, resolver misturar na “fauna” dos competidores foi um acerto. Mesmo assim, já sabíamos de antemão todos os estereótipos revelados nos programas antigos. E de um desses surgiu o vencedor deste ano.
Isso é a grande prova de como as pessoas não mudam, por mais que o mundo gire e a Lusitana rode. Como explicar para uma nação de analfabetos e esfomeados, sempre iludidos a cada dois anos com promessas de cima para baixo e com aquela vocação para o pop-brega ao extremo, que um macho-alfa, retrógado, homofóbico e que usa uma tatuagem abominada pela cultura ocidental contemporânea, como um símbolo de filosofia oriental? Não há o que explicar. É só dar um livro de boas maneiras a ele. Se passar pelo menos do capítulo 1, já merece um biscotinho canino para que possamos fazê-lo aprender o capítulo 2. E foi o que aconteceu. Alguns capítulos decorados e muitos biscoitos caninos depois, mesmo com as travessuras de praxe, se ganha um steak como prêmio máximo e uma fitinha azul.
E isso machuca a quem não vê com bons olhos, o comprometimento comportamental diante de uma meia dúzia de lições, no estilo “como se faz”. É duro para uma pequena parcela de informados, verem que se elege um milionário com quatro vezes mais votos do que o necessário para eleger o presidente dessa nação. Mas certamente isso explica muito sobre nós mesmos e a nossa atual situação. Somos gente de cara esburacada como nossas estradas, falida como nossas instituições, faminta de idéias e leis renovadas, antiquada como nossos governantes, mas ao mesmo tempo cheia de sofrer, como um bueiro entupido de lixo. Mas, caros, isso não é de hoje. Pão e circo para as massas e todo mundo sai feliz. Na vida real não há manipulação, a comunicação não faz você se teleguiar, mas sim mostrar um reflexo da sociedade. Se não houver identificação com a realidade e com o público, não há propaganda de Minuano que venda e daí, o nome reality show. Triste, mas é verdade. Enquanto isso, os Chacrinhas e Silvios Santos se reinventam, jogando dinheiro em forma de aviãozinho para os novos componentes dessa pet shop mundial. Nós ainda não passamos do capítulo 1. E só para lembrar, amanhã é o dia da mentira.