Wednesday, June 14, 2006

Vida que segue


Aloisio Santos ____ Quem viveu nos anos 70 e 80, deve se lembrar de uma revista chamada “MAD”. Nela tinha uma brincadeira no estilo “Você sabe que está perdido quando...”, “Você sabe que está falido quando...” e depois, vários desenhos hilários ilustravam a situação. Pois é. Neste caso eu faria um “Você sabe que está velho quando...”. E a resposta seria: “Quando nem um bolo de aniversário você teve em casa”. Mas tudo bem, você não espera que a certa altura do campeonato, sua mãe com mais de 70 anos levante-se com uma gripe daquelas pra ir pra cozinha e o resto da sua família quer mais que você Weissenfühder (só pra usar um “termo germânico” em dias de Copa). Mas mesmo assim não posso reclamar, afinal não faltaram parabéns, mensagens e telefonemas. Só no orkut, mais da metade dos meus amigos reais e virtuais mandaram pedaços de afeto, carinho e amizade. Agora, pensando bem, esse dia não seria exatamente uma amostra cômica, como na revista. Seria mais ou menos como um daqueles personagens de comédia besta americana onde um mauricinho faria um “L” com os dedos sobre a testa para você. Duvida? Ok, explico como foi.

Cinco e meia da manhã e o casal vizinho logo acima (que é famoso por acordar o prédio inteiro, de madrugada, realizando verdadeiros test-drives para elenco de filme pornô nacional) resolveu comemorar a noite do dia dos namorados quebrando todos os utensílios e móveis da casa. E bradando ao último volume qual dos dois é o mais insensato. Tudo bem, eu passei essa noite sozinho, por isso não reclamo de passar por situação igual. No máximo de que quem eu quero não me quer e daquela que você sempre quis dar uns pegas te ligar, dizendo que o casamento dela vai mal e que tem sonhado contigo... E de me fazer acordar 3 horas antes do costume, claro!

Bom, nada a fazer a não ser levantar. Mais um dia de labuta pra conseguir pouco mais do que dois salários mínimos. Isso depois de você aturar Deus e o mundo para isso e com aquela sensação de que tem quem ache que você nunca fez o suficiente (nem eu, claro!). E sou beijado pela minha gripada mãe e zoado pelo meu sobrinho e pela minha irmã (já perceberam que não moro sozinho claro...). Mas tudo bem. Eu trabalho em casa e em vez de ter um só chefe, tenho vários. Os meus clientes. E só pra bater um texto no Word a luz caiu várias vezes, porque além do banho demorado do meu sobrinho, todos os eletrodomésticos e luzes da casa estão ligados. O problema é que pela 4ª vez na minha vida, meu aniversário caiu no dia de um jogo do Brasil e perto de mais um feriadão. Isso significa que meu vizinho do lado vai passar o dia ouvindo aquele pagode fuleira, cantando dor de corno (e ele junto) as próximas 24 horas, ou 48, ou 72 talvez. Coisa que ele costuma fazer num fim de semana, me acordando 4 horas antes do que estou acostumado. Mas tudo bem, tenho o disco do Sepultura guardado aqui pro dia da vingança.

Ótimo. Dia de jogo do Brasil na Copa e meu trabalho vai ser em passo de tartaruga. Ligo pro pessoal onde vai ser a torcida. Casa de um amigo em comum. Ótimo, é perto de casa e não preciso encarar metrô ou ônibus (Carro? O que é isso?) em engarrafamento pra simplesmente ver um jogo. É só levar a birita ou o que quiser beber. Infelizmente meu fígado partiu de mala e cuia para outro corpo no 6° período da minha faculdade, por isso vou ter de ir de refrigerante. Chegando lá descubro que além de mim, só tem mais um solteiro na galera. O resto está com crianças pulando em frente da tv, em cima de todos os móveis e berrando mais do que o Galvão Bueno (graças a Deus). Uma delas me pegou pra Cristo com uma corneta no meu ouvido todo o 2° tempo. Pelo menos serviu pra não dormir daquele jogo sem tempero. E graças a Deus também conseguimos vencer.

Resultado magro no futebol e sem álcool na cabeça pra comemorar por besteira a solução é voltar pra casa. Pra mais uma noite de mais um dia. E só tenho a agradecer por isso. Por que eu sei que terei muitos como esse, multiplicados por 365 e multiplicado por várias vezes. Vida que segue.