Monday, December 03, 2012

Esqueçam a Martha


Quem gosta de tv, por motivos muito estranhos, tem uma certa admiração por seriados médicos. Nos últimos anos, “E.R” e “House” formaram fãs em todo o mundo e cada um de nós brasileiros, além de técnicos de futebol, também nos formamos profissionais de saúde e sabendo de tudo que acontece com nossas (in)sanidades. E o que explicar então, de “Sessão de Terapia”?
A série, originada de Israel, já foi produzida em diversos países e a versão americana é praticamente um “Cult”, não pela grande audiência, mas pela trama em si. Tudo isso motivou Selton Mello a um salto na sua carreira. Agora, atrás das câmeras, conduzindo as vidas de um pequeno grupo de pacientes (um por dia) na casa-consultório de Theo, bravamente vivido por ZéCarlos Machado. Um personagem dando os primeiros passos fora da meia idade e cometendo o erro primário de todo terapeuta (se envolver completamente com seus pacientes). Os dramas da comedora de homens, Julia (Maria Fernanda Candido), o Policial de elite, Breno (Sergio Guizé, uma boa e grata surpresa); a adolescente suicida Nina (Bianca Muller); o conturbado casal Ana e João (Andre Frateschi e Mariana Lima). Mas a semana fica sempre melhor quando Theo resolve degladiar com sua supervisora Dora (magistralmente conduzida por Selga Egrei – De “Nosso Lar - expressões faciais que são de matar de inveja qualquer atriz estreante). Ao largo de tudo, a família de Theo vive os seus problemas, claro, e para isso não há rivotril que ajude.

Mas o mais emocionante é perceber que uma série mundial teve um que de Brasil pelas mãos do Selton. O discípulo mais ardoroso de Tarantino, colocou sua teoria do “Tarantino’s Mind” para dar seu toque autoral em cada cena, cada trilha, cada fala e cada quadro, sem ficar com aquela cara mambembe que volta e meia assombra as produções nacionais. Dá vontade de esperar pelo dia seguinte e saber o que vai acontecer e mais, saber que o mundo que todos nós sabemos não ser um mar de rosas, tem suas soluções nas buscas internas que tanto tememos. Na verdade, uma catarse aos psicólogos e terapeutas reais que enxergam não apenas o nosso mundo mas o de seus próprios, de uma maneira bem peculiar. Bem diferente das colunas de auto-ajuda das revistas e jornais. O buraco é realmente bem mais embaixo do que a Mariposa Apaixonada de Guadalupe quer resolver. Por isso, esqueçam a filosofia barata da Martha e vejam como o Theo pode ser tão humano e nos vermos cada vez mais humanos nessa produção nacional que já tem sua segunda temporada garantida. E mal podemos esperar para voltar ao sofá e olhar pelos barcos de brinquedo e livros da sala de Theo para nos espelharmos e reviver nossos dramas, torcendo para que os da ficção tenham solução (ou não), já que os nossos ficam por conta dos terapeutas da vida real... Quem disse que não precisamos deles?

Friday, November 16, 2012

Back to Back



Na linguagem dos DJ’s, “back to back” é um efeito onde se usa os dois toca discos, com as mesmas músicas em cada um deles e no mesmo ponto delas. O Dj vai puxando alternadamente os discos nesse ponto e o que ouvimos é o mesmo compasso repetidamente. O que isso tem a ver com o novo filme da franquia 007, “Operação Skyfall”? Tudo.
O personagem James Bond faz 50 anos e há anos, o autor dos livros, Ian Fleming deixou o mundo terreno e ficamos sem mais novidades. O maior desafio dos roteiristas é fazer novas tramas e tendo ainda que destrinchar um mundo onde ocidente/oriente não vivem mais às turras. Daí o pulo do gato é fazer um retorno às raízes, como em toda franquia ou personagem que tenha cativado o público, como o Batman por exemplo. E tem o Craig... Ok, Daniel Craig é sem carisma, se move feito símio, o cão comendo mariola na chuva e sempre com aquela cara de quem ficou puto com o que você acabou de falar dele. Mas se pararmos para pensar, até isso é proposital. Resta ver até quando isso vai durar.
Neste vigésimo-terceiro filme, tudo parece uma pequena homenagem aos 50 anos e o roteiro foi nessa barca até o fim. Temos um Bond que aos poucos vai tomando a identidade que cabe a um agente 00. Ele ainda está “cru” para agir em campo e fica mais a cara de um agente do Mossad do que do MI-6. Junta-se isso a um emaranhado de fatores que fez da agência um motivo de chacota do governo britânico e precisa-se reciclar de qualquer jeito. A melhor forma é (mais uma vez) revendo suas raízes para buscar o que fazem melhor. Para isso, um jovem nerd é o novo “Q” e temos dois monstros shakesperianos Albert Finney e Judi Dench, a “M” como cereja de um bolo bom de ser degustado. No auxílio luxuoso estão o Ralph Fiennes e o vilão da vez, Javier Barden, que depois de ser o Beiçola no filme que lhe deu um Oscar, agora parece um Clodovil com mais acidez e inteligência a serviço do mal do que o falecido deputado. O detalhe é que tem o padrão de atuação em qualidade Javier Barden e isso fez toda a diferença.
Todas as “instituições” Bond estão presente nitidamente até nas falas que soltam os títulos dos filmes anteriores. A Walther PPK e o Austin Martin fazem os fãs se sentirem agradecidos por terem pago o ingresso, mas é só isso. Não é demérito nenhum, embora sempre se espera mais de um filme do 007, mas como é mais para não perder o ritmo de se fazer filmagens a cada dois anos, fica valendo a homenagem. E para quem estava esperando um certo personagem em especial, a Bond Girl da vez guarda uma surpresa (que os Bondmaníacos já perceberam na primeira meia hora).
Mas vejam sem medo. Vale a pena. E tem uma apresentação primordial no estilo 007 com a nova música da Adele com um ligeiro tom John Barry no instrumental para manter o estilo e tem ehhhh... o Craig. Mas nem tudo é perfeito!