Wednesday, March 31, 2010

Para não dizer que não falei


Aloisio Santos _______________

Jurar por todos os deuses, não comentar sobre um reality show, todo mundo é capaz, mas infelizmente, dados os acontecimentos que fizeram o BBB10 (ou seja, haja saco para tanto) impedem qualquer promessa. Todos sabem que, por onde zapearmos, mesmo na TV por assinatura, há uma enxurrada de programas similares. Alguns deles chegam a ter praticamente 100% de sua programação voltada para esse tipo de exibição. Mas o que o programa global, que há 10 anos serviria como um tapa-buraco na época de férias da emissora, tem para se comentar?

Antes, colocar várias pessoas literalmente enjauladas e longe de qualquer contato externo tinha um quê de experiência antropológica. Ver o que o comportamento humano é capaz de fazer quando desconhecidos teriam que se atuar como em um verdadeiro casamento. A idéia até que era legal, mas com o passar do tempo surgiu a sombra do cansaço e com as edições seguintes, a necessidade de mexer com as regras ficou inevitável. E claro, o mundo mudou nesses últimos 10 anos. Pelo menos na forma como os acontecimentos aparecem e são divulgados. Surgiram as redes sociais que, de alguma forma, fizeram da internet o Big Brother, versão mundial e o programa teria de “seguir” (palavrinha bem atual) a essa nova realidade. O problema é que as formas de se ver o mundo mudaram, menos as pessoas, daí o grande problema. Há de se falar que a décima edição do Big Brother, resolver misturar na “fauna” dos competidores foi um acerto. Mesmo assim, já sabíamos de antemão todos os estereótipos revelados nos programas antigos. E de um desses surgiu o vencedor deste ano.

Isso é a grande prova de como as pessoas não mudam, por mais que o mundo gire e a Lusitana rode. Como explicar para uma nação de analfabetos e esfomeados, sempre iludidos a cada dois anos com promessas de cima para baixo e com aquela vocação para o pop-brega ao extremo, que um macho-alfa, retrógado, homofóbico e que usa uma tatuagem abominada pela cultura ocidental contemporânea, como um símbolo de filosofia oriental? Não há o que explicar. É só dar um livro de boas maneiras a ele. Se passar pelo menos do capítulo 1, já merece um biscotinho canino para que possamos fazê-lo aprender o capítulo 2. E foi o que aconteceu. Alguns capítulos decorados e muitos biscoitos caninos depois, mesmo com as travessuras de praxe, se ganha um steak como prêmio máximo e uma fitinha azul.

E isso machuca a quem não vê com bons olhos, o comprometimento comportamental diante de uma meia dúzia de lições, no estilo “como se faz”. É duro para uma pequena parcela de informados, verem que se elege um milionário com quatro vezes mais votos do que o necessário para eleger o presidente dessa nação. Mas certamente isso explica muito sobre nós mesmos e a nossa atual situação. Somos gente de cara esburacada como nossas estradas, falida como nossas instituições, faminta de idéias e leis renovadas, antiquada como nossos governantes, mas ao mesmo tempo cheia de sofrer, como um bueiro entupido de lixo. Mas, caros, isso não é de hoje. Pão e circo para as massas e todo mundo sai feliz. Na vida real não há manipulação, a comunicação não faz você se teleguiar, mas sim mostrar um reflexo da sociedade. Se não houver identificação com a realidade e com o público, não há propaganda de Minuano que venda e daí, o nome reality show. Triste, mas é verdade. Enquanto isso, os Chacrinhas e Silvios Santos se reinventam, jogando dinheiro em forma de aviãozinho para os novos componentes dessa pet shop mundial. Nós ainda não passamos do capítulo 1. E só para lembrar, amanhã é o dia da mentira.

Sunday, March 21, 2010

Confesso que chorei


Aloisio Santos ____________________

Dia do trabalho, 1° de maio, caindo num domingo. Alguns reclamavam perder um dia de descanso, mas todos acordaram mais cedo, como em muitos outros domingos antes. O ano era um atípico ano para os brasileiros. Naquele momento muitos não sabiam sequer com o que pagar o pão de cada dia, se era em URV’s, cruzeiros, cruzeiros novos, real, ou um índice incompreensível para o cidadão comum. A pátria de chuteiras daria o seu passo-a-passo para quebrar um jejum de Copas do Mundo de 24 anos. Um ex-senador paulista viria a ser presidente, graças a um plano monetário que se mantém até hoje, sabe-se lá como. Naquele dia, como todo domingo, era dia de frango com macarrão. A praia ficaria lá pra depois das onze horas. Mas antes, o sagrado e ótimo ofício de vibrar em frente à TV era celebração ecumênica de uma nação inteira. E no meu caso, que passava ao longe das igrejas, essa era a minha religião.

O dia era tenso. Um piloto havia morrido dois dias antes, na pista de Ímola. O então meio-estreante Barrichello voou e quase destruiu a sua vida, logo depois. A torcida era não somente de ver um orgulho nacional vencer novamente, mas principalmente, como todo fã de Fórmula 1, que a fatalidade não fizesse das suas, mais uma vez. Ledo engano. Logo nas primeiras voltas, uma Williams deu de cara na curva Tamburello. Estilhaços para todos os lados e o pior, era “ele” quem o pilotava. Uma batida feia o suficiente para quem vira todas as corridas desde os tempos de Pace e Fittipaldi. O palavrão fez quem ainda dormia, acordar na hora, por todo o prédio.

Desde então, o resto do “feriado” foi de uma total apreensão. A minha experiência de louco por corridas já sabia dos detalhes de uma transmissão ao vivo. Câmera em um helicóptero bem longe. Nada muito focalizado e quando se noticiou que seria necessário uma traqueostomia, na hora, o sangue gelou e a mente já sinalizou para mim o que o resto do país veria mais tarde, nos plantões de notícia. Era desligar a TV, numa mistura de tristeza e aceitação, com esperança e o que mais viesse à cabeça. O caminho para a praia foi “no automático”.

E meio que robotizado, vi as horas seguintes. Nunca algo foi capaz de mexer com a minha emoção, quando a perda era eminente. Nunca tinha sido um adorador de celebridades, quaisquer que seja. Ainda não sou e por isso, uma coisa muito estranha me passou nos dias seguintes, com toda a mídia fazendo aquele sensacionalismo sobre a morte de alguém. Eu simplesmente me vi emocionado. Afinal, o Brasil ainda não tinha levado a Taça, não tinha ainda a certeza se o dinheiro que ele tinha valeria algo e se o tal ex-senador ganharia. Foi tudo um grande empurrão para o esquecimento do que aconteceu naquele Dia do Trabalho. Como se o nosso orgulho fosse ferido pela suspensão de um carro e nos atingisse a cabeça feito uma bala. Nós tínhamos o que mais próximo seria de um herói de carne e osso e que não era um jogador de futebol. Algo que o mundo inteiro reverenciasse simplesmente pelo que era capaz de fazer e ainda por cima amava o que fazia. E melhor: era brasileiro por amor, não somente por nascimento. A bandeira não tremula mais nas mãos nas voltas da vitória num domingo.

E eu confesso que chorei. Também.

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Wednesday, March 17, 2010

Acho que estou ficando velho - II

Aloisio Santos__________________
“Que Deus perdoe essas pessoas ruins”
Engraçado como uma frase escrita na camisa de um jogador de futebol nos faz refletir muito mais do que simplesmente futebol. A mente humana realmente tem uma certa perversidade e nós não temos a menor idéia do seu status. Quando vem, como aparece, porque faz das suas. Mas há uma certeza. É para se ter medo do que a mente da juventude, hoje, é capaz de assimilar e jogar fora. Regurgitar mesmo, porque a qualidade não é das melhores. Tem quem diga que jovens são assim mesmo e que estamos velhos para acompanhá-los. Que desde que o mundo é mundo, que o conflito de gerações se faz presente. Balela! (palavra velha, não?).

Por isso que sempre devemos ter boas referências. Há quem diga que os perdidos anos 80 foram uma droga. Que nada se compara a quem viveu os easy 50’s ou os perplexos e revolucionários 60 e 70. Pois bem, para quem viveu essa década em sua adolescência, tem a certeza que as influências foram tudo e isso levou a uma questão: a de que foi a última década com algum movimento cerebral. Era preciso ser livre, na prática e na garra, com que as décadas anteriores ensinaram, mas com uma extrema dose de energia e principalmente, sabedoria. O erro não poderia se repetir.

Para bom entendedor, basta a arte. Não precisa ser erudita, pois o pop é suficiente para mostrar como se faz. O que dizer do cinema, que há anos não produz um filme que entusiasme ou motive uma torcida por um Oscar? Medíocre e nivelado por baixo, não é mais capaz de se reinventar, só mudar a tecnologia. O que era diversão e novidade nos anos 80, virou manual de instruções, hoje em dia. Pura receita de bolo. Dá uma saudade imensa de ver como John Hughes retrava melhor os adolescentes e os tratava bem. Quer comparar o vampiro de boutique de hoje, assexuado, contra a tríade Banderas-Cruise-Pitt de “Entrevista com Vampiro?”. Que as bombshells de hoje vieram do Clube do Mickey? Certamente iriam precisar um pouco mais de feijão e pimenta (a muito gosto) pra chegar a ser uma Cindy Crawford, sem precisar de photoshop.

Quer música? Aqui temos uma boa enxurrada de motivos. Os ídolos atuais são compostos por quem se diz capaz de dizer “eu sou mais eu” da maneira mais vingativa e egocêntrica possível. Não gostou? Então essa bala de 45 é pra você, mano! Ou então se preferirem temos as ultra-gostosas do pedaço, que usando o tal manual, ainda não saíram do capítulo número 1 sobre caras e bocas (e gestos) a fazer. Quem se diz novidade é apenas uma mistura de David Bowie com Madonna e você não sabe se ela, em seu próprio, nome está homenageando o Queen, ou apenas escancarando a velhice da fórmula. O que é para ser puro escapismo momentâneo, vira cíclope em uma ilha de cegos.

O que mais intriga é que eles têm tudo à mão. Tudo ao mesmo tempo agora. Aconteceu, gravou no celular, passou pelo pen drive, jogou no HD, colocou no You Tube, “tuitou”, “orkutou”, foi por mail e assim, disseminado. Ou então, para os mais abastados, basta um bom celular com todos os aplicativos juntos e queimar as etapas anteriores e realizar tudo em uma só. Isso é informação, véio. Tá aí para quem quiser ver. Inclusão fazendo a exclusão. O mundo cabe no meu quarto e quero que o resto se dane. Vou andar com meu nariz empinado para quem quiser ver que sou o dono do mundo e se não prestou atenção nos últimos 20 segundos do que eu disse, já ficou para trás. Mas eles se esquecem de uma coisa. Informações são baseadas em fontes. Fontes são referências e mesmo com tudo na cara para quem quiser ver, o imediatismo não os permite ir muito além da banda que fez seus 15 minutos de fama, na última semana. Por isso não se impressione se o revisionismo homenageia os antigos em diversas formas de mídia, fazendo com que todos engulam como se fosse bala de sabor novo. Mash up é o novo conceito. Joga tudo no liquidificador (com gelo, de preferência). Se descer redondo tudo bem, só não arrote porque pode dar galho.

Por essas e outras que Deus deve perdoar a quem, a princípio, tenha uma mente ruim. Então vá buscar, vá pesquisar. Procure, corra mais um pouco. Se você conseguiu algo, maravilha. Guarde e se puder, espalhe. Só não deixe o sucesso da conquista subir à cabeça. Use como incentivo para as próximas. Emocione-se e chore por coisas que tenham mais sentido, mesmo que seja uma simples propaganda de margarina. Certamente a divindade e o mundo vão agradecer em ver como as pessoas estão mais simples e não menos atualizadas. O dia continuará a ter 24 horas, independente do que precisa fazer e não vai ser o Jack Bauer quem vai te salvar. Só você mesmo.