Wednesday, August 01, 2007

Agora que acabou...


Aloísio Santos ___________ Aquele café bem perto do Largo da Carioca guarda uma medalha Pan-Americana. É prateada e tem quatro anos de vida. Na verdade, uns anos a mais do que isso, talvez. Claro que pra conseguir colocar uma dessas no peito é necessário dedicação ímpar. Anos de treinamento, noites mal dormidas e, logicamente, muita porta na cara. Afinal, quem vive de esporte amador não tem patrocínios, tem “paitrocínios”. Essa medalha, por incrível que pareça já ouviu até um de ídolo medalhista, o seu total desprezo pelo esporte que ele praticava. Algo parecido como a fábula do patinho feio. Mas mesmo assim, quem continuou na equipe, tinha a torcida de todos aqueles esquecidos da festa de quatro anos atrás. Havia a esperança que algo mudaria na vida de todos. Hino nacional. Um Pan na terra natal. Mas sabiam que, com seus pés no chão pouco aconteceria, daí pra tocarem suas vidas em suas identidades secretas era o caminho sensato a seguir.

Era engraçado acompanhar tudo pela tv e quem sabe ver um filme da própria vida passando pela cabeça. Mas mesmo assim torcia e poderia fazer os mesmos movimentos dos seus antigos companheiros como se estivesse lá, jogando. Batalhando por outra medalha. Voltar no tempo provavelmente daria a sensação de que suas prioridades eram outras naquela hora. Tudo isso envolto em livros, cafés, quiches e na prateleira com memorabilias, que era o único sinal visível a todos, daqueles dias de luta.

Chato perceber que heróis de carne e osso não são como os mutantes gloriosos dos desenhos. Notar que a memória que as pessoas têm deles vai até onde as notícias conseguem saturar. Que os louros da vitória não garantem novos desafios a não ser o de continuar lutando. E que no fim do dia, voltarão pros seus lares com o peito cheio de orgulho não por ter feito algo que gostam e vencer com isso. Mas simplesmente por terem chegado ao ponto onde queriam chegar com todo o sangue, suor e lágrimas que derramaram. Agora tudo acabou. A cidade voltará à sua rotina de sempre. Pira apagada. Novos heróis em seus tronos instantâneos e temporários.

As notícias de hoje são as mesmas de todos os dias. Todas aquelas em que temos a infelicidade de ver, mas sempre atiçando a nossa curiosidade louca de saber onde tudo pode parar. Aquela sensação de fim de festa e que com os holofotes apagados, os templos parecem estar fadados a criarem teias de aranha gigantescas. Do tamanho do sonho de todos os esportistas de conquistarem seus olimpos particulares.

E a vida vai continuar naquele café no centro do Rio. Boa amizade, boa companhia, boa conversa, “tudibom” como costumam dizer. A medalha estará lá feliz da vida por ter seu brilho. E querem saber o que aconteceu com aqueles por quem ele torcia esses dias? Repetiram seu feito e colocaram mais medalhas na estante para provar que estão vivos, de carne e osso e fazem daquilo que gostam, o seu gesto heróico.