Wednesday, December 20, 2006

Pequenas histórias de Natal


Aloisio Santos ________

Todos têm o seu Natal inesquecível e aposto que nessa mesa há conteúdo pra ficar ouvindo e contando até às festas do ano que vem. Histórias tristes, Alegres. Ou até por falta de histórias que um ano específico, já rendem um bom caso. É mais ou menos como aquele slogan do programa Global dessa época: “Uma noite com o Rei, a gente nunca esquece”. Pra ser sincero, lembro bem até da primeira das apresentações especiais pra TV do carinha que costumava ser uma brasa. Eu tinha acabado de ganhar quatro jogos de futebol de botão. Um do Vasco, um do Palmeiras, um do Corinthians e um do Flamengo. Nem esperei a mesa. Fiz do desenho dos tacos no chão pra marcar as quatro linhas e joguei até cansar enquanto aquele cantor cantava sobre sua pequena cidade natal, no interior do Espírito Santo. Nem dei atenção. Também nunca fui fã, ainda mais agora que ele já não cria e ainda esteja com mais manias do que o Michael Jackson.

Mas lembro-me mais das festas de Reveillon. A que choveu e obrigou todo mundo a correr da praia feito desalmado em direção aos carros. A primeira cascata do Meridien. A daquela em que o Centro Comercial de Copacabana pegou fogo. E sempre esperando pelo primeiro raio de sol no dia seguinte. Como se fôssemos o Supreman tentando revigorar suas forças pra encarar o que viria pela frente.

Dos Natais, pouco sobrou depois que deixei de ser criança e de uns 10 anos pra cá principalmente, já que meu pai é que fazia questão de ter tudo o que tinha direito. E isso significava ou passar as festas em Minas com o resto da família, ou receber toda a horda ao mesmo tempo aqui no Rio. Mas certos Natais se superam em pequenos gestos que você se dá conta pouco depois somente. E essa história em particular tem a participação de uma pessoa bissexta dessa mesa e que vai se identificar quando ler essas linhas abaixo.

Eu estava prestes a voltar a estudar no Sacre Couer, depois de 3 anos fora. E naquele ano ganhei um amigo que assim como vários outros dessa mesma época, felizmente trago uma fraterna amizade até agora. E seus pais insistiram em me convidar pra passar a noite de Natal com eles e a família. Aceitei a princípio como um gesto de agradecimento pela força que me deram pelo meu retorno. Mas foi bom porque na mesa onde estávamos apenas nós os homens da reunião, ouvindo histórias de uma pessoa (por sinal o pai desse meu amigo) que tinha a particularidade de falar bem baixo. Quase inaudível. E compreendia apenas as primeiras palavras de cada frase, que eram as que ele proferia em tom mais alto. Geralmente eram histórias que passavam pelas fases da própria história brasileira que então desconhecia e por causos que passou quando mais jovem. E pra variar Bob Charles na TV. E pra que dar atenção ao Rei? Tenho mais o que fazer (comer e beber) e ouvir.

Prometi sair por volta de 11 horas. Naquele tempo os pré-adolescentes tinham horário pra voltar pra casa. E também teria de encarar a ceia da minha própria família. Despedi-me e já na porta, dando o último tchau que a mãe desse meu amigo me interrompe e vem com um pequeno embrulho. Uma real surpresa. Quem poderia esperar que de convidado de primeira viagem ainda ganhasse presentes numa festa familiar?

“É só uma lembrança. Comprei hoje, pois não sabia se você viria”. Palavras dela. Sem graça pelo gesto agradeci pela surpresa e deixei pra abrir o embrulho em casa. E era realmente uma lembrança. Um par de meias esportivas. Qualquer outro pré-adolescente no começo dos anos 80 odiaria aquilo. Mas na hora notei que tinha um discurso que vinha além de um gesto de agrado. Pra mim era como um pequeno passaporte. Eu era considerado aceito no novo meio que acabara de entrar. E desde então todos os anos seguintes tinha praticamente a obrigação de ir àquela casa nem que fosse pra literalmente dizer “Feliz Natal” para todos. Logicamente com o tempo isso foi minguando, mas não culpa minha. Afinal tinha os anos que minha família vinha e teria de dar atenção a eles. Anos em que namoradas na ocasião me proibiam deixar o sofá e o prato da ceia com uma migalha sequer de farofa pra ir a qualquer lugar. Circunstâncias... Sei que essa família esse ano não terá as histórias daquele que tinha uma voz que sumia aos poucos e assim como no ano em que perdi meu pai, provavelmente as festas terão outro sentido. Mas quem sabe como no singelo gesto das meias, a aceitação não terá sentido de inclusão, mas de ponderação de novos dias. Onde a inclusão está na busca do que todos precisam e desejam em dias de dezembro. Um pouquinho de paz, união e felicidade. Quanto ao Rei eu ainda não esqueci. Por isso continuo dispensando até de deixar o som da TV ligada nessa hora.

Friday, November 24, 2006

Sabe com quem está falando?

Nessa mesa de bar tem todo o tipo de gente, mas de cabeça, além de mim, vejo pelo menos quatro pessoas ligadas à área de comunicação. Dois jornalistas e dois publicitários. E volta e meia surge a discussão sobre o que é notícia. O que vem a ser uma boa notícia. É relevante ou não? E tudo isso voltou à mente ao deparar com quase uma página inteira do "O Globo" sobre o assalto seguido de morte (gostaram do termo jornalístico?) de uma ricaça no Leblon.

Poderia ser qualquer ricaça, uma socialite de São Conrado; uma "grande atriz" namorada de um diretor global; a namorada daquele jogador de futebol que sempre quando está pra ser contratado por um time europeu, seu advogado esculhamba com tudo e ele volta a mostrar suas comemorações de "eu te amo" na camisa, por baixo do uniforme, nos campos de várzea daqui mesmo. Mas pasmem. Era a segunda (ou terceira) mulher do irmão do dono de uma grande empresa. E que por sinal, já era o segundo (ou terceiro?) marido dela. Revista de fofoca e enredo de novela mexicana perde longe.

Na boa, porque o Manoel Carlos não previu isso e botou na novela, em vez de um simples atropelamento de uma grávida num ponto de ônibus? Saddam ta lá longe, condenado. O Bush segurando no peru de ação de graças. O Lula ainda não sabe de onde veio o dinheiro do dossiê. Tenho um vizinho que rouba o Segundo Caderno do meu jornal. Não sei o que fazer com minhas contas, já que quem me deve não me paga (seria um caso macro ou micro-econômico?). Qual o resultado da Mega Sena? Sabe-se lá se vai dar sol ou chuva no fim de semana e o que importa é que ainda tem gente morrendo de fome no séc XXI e por incrível que pareça na portaria do meu prédio. Mas me desculpem a família da socialite, pois a violência mata muito mais gente do que se imagina, logo quando você chega no Rio de Janeiro, por uma via expressa. Então porque cargas d'água é tão chocante, relevante, extasiante, fulgurante, flavorizante e Flávio Cavalcante dizer, que a terceira mulher (em seu terceiro casamento) do irmão do presidente de uma empresa morreu, só porque não entregou a droga do seu Mercedes ou do seu Rolex pro bandido quando ele a abordou? Já vi gente morrer por muito menos do que isso... Por diabetes, hipertensão, velhice, câncer, febre tifóide, dengue, choque anafilático, falência múltipla dos órgãos (outro termo médico-jornalístico), aids e lá vai pedrada só porque não conseguiram ser atendidos num hospital na hora que tiveram seu piripaque. Até no Copa D'or acontece isso. E nem por isso são relevantes o suficiente pra garantir uma busca concreta dos problemas.

Pode apostar. Daqui a pouco vão fazer uma ONG chamada "socialite-sou-da-paz", glorificando todas as ações que ela um dia poderia fazer se ainda estivesse viva (não estou duvidando que ela o fizesse, ou seja, boa pessoa). E todos caminharão num domingo de sol pelo calçadão com camisas brancas patrocinadas pelo Viva Rio e clamando pelo seu direito de ir e vir de Mercedes sem problemas e com aquele olhar blasé pros garotos de rua que tentam faturar um troco como malabaristas. Afinal, as terceiras mulheres, em seus terceiros casamentos do irmão, do primo, do amigo, do tio de terceiro grau, que veio num navio de imigrantes nos anos 20, fundador de uma grande empresa, são gente também. E nosso país com isso vai perder muito, pois menos estrangeiros investirão num país onde é impossível andar na rua em paz.

Quer saber? Acho que vou cancelar a assinatura do jornal e viver apenas das noticias que todos comentam na rua... São as mesmas, relevantes, importantes, interessantes e não pago nada por isso. À propósito, nem botei foto nesse texto, porque também não achei relevante.

Aloísio Santos

Sunday, October 22, 2006

O Mutley dele era melhor



Aloisio Santos________ Como falar de F1 no país do futebol e que só acordava domingo cedo pra ver o Ayrton Senna? Comparando com futebol claro! Pra começar vou dizendo que sou um Ferrarista. Um torcedor da Ferrari. É algo que veio acompanhando todas as corridas de fórmula 1 desde os tempos do Emerson Fittipaldi. Mas algo sempre incomodava em torcer pela escuderia do cavalo negro rompante e aí vai a comparação com o futebol. Imagina você em plena época de preparação para Copa do Mundo vê que na escalação da seleção tem um cara chamado Maradona entre os convocados? É mais ou menos essa sensação que tenho ao ver o Michael Schumacher no cockpit daquele carro vermelho. E olha que já passamos pela experiência de ver o Alain Prost no mesmo lugar. Mas ele era o “professor”. Ele podia.

Vão me jogar todas as latas de cerveja que existem nessa mesa por causa do que vou dizer. Mas sou um dos defensores da tese que o alemão é o Dick Vigarista da categoria e não o Pelé como a maioria apregoa. A grande diferença é que ele tinha um “Mutley” mais eficiente na sua carreira de sucesso. Um não, vários. Isso tudo fez com que os últimos 12 anos fossem mais chatos de acompanhar. Mas sou mais fã de corridas do que de pilotos. Isso não se compara até o momento em que você entra em um deles, mesmo parado. A sensação é de marcar o gol de uma final num Maracanã lotado. Ou de uma criança dentro da fantástica fábrica de chocolate. Conhecimento de causa. Mas vamos à teoria dos Mutleys que o Schummi teve...

Dois dos sete campeonatos vencidos por ele foram com momentos de deslealdade, jogando Damon Hill e Jaques Villeneuve para fora na última corrida. Dos outros cinco, acredito que um ou dois, foram por merecimentos, já que ele teve como companheiros de equipe o Eddie Irvine (Um dos piores e mais desleais pilotos da história. Era tão ruim que no início de carreira esperava o Rubinho acertar o carro no box pra fazer igualzinho) e claro, o Rubinho. O eterno cara que se deu conta que estava realmente na fábrica de chocolates e ainda ganhando por isso, que simplesmente baixava a cabeça aos mandos e desmandos do alemão frente à equipe para que tudo desse certo apenas a favor dele. Até fazer o brasileiro pisar o pé no freio pra que ele ganhasse uma corrida. Ou todos os mecânicos perderem 15, 10 segundos a mais no box com brasileiro.

O alemão não teve realmente ninguém a altura de sua capacidade, mas ele não correu com o Piquet, com o Prost, com o Mansell, com o Alesi, com o Bergher, com o Senna ao mesmo tempo em uma temporada. E olha que alguns deles ainda tiveram como “companhia” nada mais nada menos do que o austríaco Niki Lauda (outro bom merecedor de uma Ferrari). Ele não passou uma temporada correndo com Jody Scheckter, Fittipaldi, Reutmann, Stewart, Pace, o Andretti pai, o Villeneuve pai (mais um merecedor de uma Ferrari) e o próprio Lauda ao mesmo tempo. Sem contar que teve nas mãos um carro impecável, e aí talvez, a única amostra de algum talento, pois dirigir uma Ferrari não é pra qualquer um. Mesmo assim em 12 anos conseguiu 6 títulos. Mas posso prever uma coisa, se depender do Alonso, esse é um recorde a bater fácil. Afinal o espanhol ainda tem mais uns 12 anos de F1 pela frente (a diferença de idade entre ele e o Schumacher) e já começou com dois títulos de vantagem. Fazer mais cinco a essa altura e com o que mostrou ser capaz não parece ser difícil.

Bom, desligo a tv, logicamente emocionado de ouvir o tema da vitória tocando no GP Brasil, mesmo com o Felipe Mala (ops) Massa vencendo a corrida. E não posso deixar de agradecer ao alemão por nada... Por mostrar a face escancarada e desleal de um esporte considerado de “elite”. Por mostrar que ele não é o Pelé da Fórmula 1. Apenas um Dick Vigarista que tinha um Mutley que não fazia trapalhadas e por isso vencia fácil. Pra mim já vai tarde.

Monday, October 09, 2006

Manfredini



Aloisio Santos _____ Quem conhece o Rio de Janeiro e gosta de boa música conhece bem uma loja de discos tradicional em Copacabana, a Modern Sound. Pois bem, ela é conhecida por ter em seu acervo, tudo o que você não conseguiria achar em lugar nenhum. Até mesmo em tempos de internet. Mesmo se eles não tiverem na hora, não há problema, eles mandam um Indiana Jones caçar nos confins do mundo a sua iguaria. Mas tudo tem seu preço. Essa loja também tem a má fama de fazer com que os compradores cheguem lá com carrinhos de mão cheios de dinheiro e sair sem nenhuma roupa no corpo e apenas um cd. Mas também é um bom lugar para pesquisar, por isso muitos músicos dão uma passada para ver coisas antigas, coisas novas e assim buscar inspirações para seus álbuns. E também trocar uma idéia com o Amândio, um dos melhores e mais antigos dj’s que já vi.

Hoje, ela ocupa todo o espaço de um cinema e de mais duas lojas e virou uma megastore-café-lounge-livraria-banco 24 horas-farmácia de plantão-mercadinho dia e noite. Mas até poucos anos atrás vendia apenas vídeos, alguns livros ligados à música e cinema e discos de vinil. Aos montes. Tanto que as novidades que vinham de fora ficavam nas próprias caixas de papelão. Era um tempo que internet não existia, ou estava no berço e troca de arquivos em mp3 impossível. Daí tínhamos que amanhecer na porta pra ter um “Kill’em All” do Metallica antes de alguns mortais tupiniquins. E para facilitar a vida dos aficionados, deixavam pequenos bancos onde você simplesmente pegava e fuçava disco por disco nas caixas sem acabar com a sua coluna.

Num tempo onde todos pareciam vir de um show de heavy metal que eu e um amigo fazíamos a nossa “ronda” na busca de novidades da loja. Nem sei porque me submetia àquele ritual masoquista, pois não tinha um centavo sequer pra nada e os vendedores já manjavam o ritual da turma, mas gostavam de dar um ar de superior por trabalharem lá e dizer que entendiam de música. Mas nesse dia, pelos idos de 1986, esse meu amigo me cutucou e apontou pro lado. Vi apenas um cara barbudo, de óculos e na hora me lembrei de um vídeo onde ele bradava em alto som, coisas da natureza humana e que brigar não havia sentido se não havia motivos ou vontade. E meu amigo me cutucava a cada dois segundos que me impedia de fazer minha pesquisa musical nas caixas de papelão e quase que gritei no meio da loja... “Tá! Já sei quem é! Quer que eu faça o que?”. Pois nós cariocas temos um certo jeito de tratar as celebridades como nossos vizinhos. Tirando um ou outro, pelo menos na Zona Sul da cidade, elas são pessoas que realmente podem ser seus vizinhos, por isso não nos jogamos em cima deles pra pedir qualquer coisa. Ainda mais hoje que com qualquer celular você é um verdadeiro paparazzo.

Notei que meu amigo queria uma lembrança daquele cara que estava despontando e começando a divulgar o segundo álbum de sua legião de músicos. Não tinha nada na minha carteira a não ser uns cartões de visita. Dei um deles e ele correu pro caixa para pedir um lápis emprestado. Um minuto depois ele voltava todo feliz com o seu troféu e me deu. Na hora disse que é dele. Afinal, ele teve a paciência, o saco, o mico, sei lá de pedir um lápis e um autógrafo do cara. E também não tenho o costume de fazer isso e nem guardar autógrafos. Ele de tanto insistir fez com que guardasse o autógrafo na carteira, junto dos outros cartões de visita e notei que além do autógrafo tinha colocado um desenho do Congresso Nacional no canto. Como quem dissesse de onde veio, pois provavelmente não estava homenageando Niemeyer nem JK.

Não sei porque deixei esse cartão de visita entre os demais até hoje. Talvez por preguiça ao vê-lo no meio dos demais cartões. Simplesmente poderia jogar fora com algum contato que não me desse mais interesse. Mas sempre que fazia isso, deixava-o no meio dos outros. Provavelmente uma voz bem baixa no meu ouvido me dizia que aquilo valeria algo um dia. Como na cena dos Caçadores da Arca Perdida em que o arqueólogo-vilão do Indiana Jones dizia que se enterrar um relógio comum no deserto por mil anos faria esse relógio ter um valor inestimável depois. Naquele momento essa voz dizia que aquele cara barbudo, de óculos e feio feito o cão iria mover massas em shows que pareciam verdadeiras missas com seus devotos em total transe. Porque tinha coisas a dizer e sabia que nem tinha apelo visual pra colocar meninos e meninas aos seus pés. E passado mais um ano, mesmo depois de anos sem nada novo, as mensagens nas músicas alcançam outras gerações de rebeldes sem causa e com causa também. Principalmente os com causa. Mas o troféu pelo momento adolescente ainda está comigo.

Friday, October 06, 2006

Amigos / Inimigos



Bel_______________

Amigos - Os últimos dias andei conversando, teorizando, muito sobre amizades. Em uma dessas conversas, me perguntaram quantos amigos de verdade eu tenho. Pensei e cheguei a conclusão de que não tenho nenhum amigo de verdade.

Explico. Para mim não existe essa história de amigos, amigos de verdade, amigos do peito. Amigo é amigo. E quem não é amigo é conhecido.

E aí veio a pergunta, e o que é amigo para você então? Essa foi fácil, nem tive que pensar para responder.

Amigo para mim é alguém para quem você não precisa ligar às três da manhã porque ele te ligou antes. Ou então está do seu lado no momento em que você precisa. Amigo fica feliz com nossas alegrias, mesmo que ele não esteja lá muito bem. Ele não seca nossas lágrimas quando choramos, ele fica do nosso lado e depois olhando no olho solta um suspiro enorme de satisfação e alívio junto com a gente.

Chama a gente de bobo, mas não para de cantar músicas ridículas e fora de moda nas madrugadas da vida. Ri da mesma piada centenas de vezes.

Ao lado dos amigos não existem amores impossíveis, barreiras intransponíveis. E mesmo que na hora não faça o mínimo sentido, o amigo sempre tem razão. A outra pessoa realmente não era assim tão importante e nossa vida não acabou por conta dela!

Já repararam como cerveja com amigo é sempre mais gostosa (mesmo que ela esteja quente e choca)? Já viram que festa com amigo é sempre mais animada (mesmo que sejam apenas três malucos bebendo em uma mesa de bar)?

Não existe amigo distante. Amizade não é físico, não exige presença, não tem que ver e falar todo dia (quando dá é ótimo, mas quando não dá a amizade continua assim mesmo).

Só que para entender o que é ter um amigo é preciso ter pelo menos um inimigo! E inimigo é, bom deixa pra outra hora. Inimigo é tão chato que nem vale a pena estragar amizades falando dele.

Apenas aos amigos:

Não quero recados melosos do tipo "eu te amo" ou "você é a melhor amiga do mundo". Mas o amigo que leu até aqui e não deixar um recado para mim, vai receber spams, correntes e pps até o fim da minha vida!

Inimigos - Promessa é dívida. O que é um inimigo para mim....

Inimigos não são pessoas que nos odeiam. Não. São pessoas que nos amam tão profunda e alucinadamente que querem ser o que somos. Querem ser a gente. Vestir nossa pele.

Perdem tempo falando mal da gente para nossos amigos porque eles são mais interessantes ao nosso lado. Desdenham do nosso cabelo, das nossas roupas, apenas para correr e comprar e fazer igual.

Prestam tanta atenção na gente, que podemos prestar atenção em coisas mais importantes, como o cinema e o chopp com os amigos! Arrumar um namorado melhor! Encontrar aquele quadro perfeito para o canto mais perfeito ainda da nossa casa.

Se alegram com nosso sofrimento, não porque estamos mal, mas porque eles podem se sentir mais fortes. Desprezam nossas vitórias e conquistas porque não foram vitórias e conquistas deles.

No fundo o problema de qualquer inimigo é não ter vida própria. É ter que contentar-se de viver das sobras de uma vida alheia.

Se por algum acaso um inimigo meu ler isso (isso é, se eu tiver algum, se for possível que existe alguém no mundo que me conhecendo consiga ter sentimentos destrutivos em relação a minha pessoa tão maravilhosa – bom sempre tem uma ex-mulher por aí que pode me odiar!!!!) saiba que eu continuo linda, generosa, inteligente, independente, apaixonante, esfuziante e feliz. Muito feliz.

PS: Vodu não pega. Nem precisa perder tempo!

Monday, September 04, 2006

Amenidades


Aloisio Santos _____ Alguns de vocês não sabem, mas faço parte de um grupo de discussão chamado “Naum”. Surgido da idéia de um amigo meu em fazer um contato mais próximo com amigos em comum e com a família, já que ele mora em São Paulo. Mas diferente da maioria dos grupos de discussões existentes, não tem nada de “nerd”. Ninguém vai falar sobre o biquini dourado da Princesa Leia em “O Retorno de Jedi”, ninguém vai falar sobre um novo videogame que pode desbancar o PS2, tampouco pra jogar ovos virtuais num grupo de pagode. O papo é super amigável, embora tenha algumas normais rusgas, pois tudo rola como num clima de mesa de bar. E graças aos acontecimentos atuais do nosso país tem seus assuntos centrados mais na política, na economia, negócios, pessoas e... De vez em quando sobre o biquíni dourado da Princesa Leia, já que ninguém é de ferro. E dias atrás, depois de quase um ano de atividades, parte do grupo saiu do virtual para a real mesa de bar. Não que já nos conhecêssemos, muito pelo contrário. Todos com raras exceções têm amizades de anos, o que deixou a roda mais incrível. Mas o que me deixou feliz mesmo foi a forma como fui apresentado aos que não conhecia pessoalmente. “Este é o Aloísio... o que fala de cinema e amenidades... O Caderno B do Naum”.

Pra muita gente, num grupo que costuma discutir basicamente coisas bem sérias, isso pode cair na cabeça como um insulto. Errado. Pelo menos pra mim, foi o maior dos elogios. Estava num bar de frente para a Praia de Ipanema. Bem embaixo de onde existia uma casa de shows chamada Jazzmania, onde o melhor do Free Jazz (atual Tim Festival) costumava dar canjas e onde surgiu bastante gente boa da nossa música, como a Marisa Monte, por exemplo. Quer mais ameno do que isso? Fui posto numa posição onde na hora dos ânimos mais exaltados viessem à tona e chegarem quase na pancadaria (pelo menos no ramo das idéias), eu viria com uma conversa sobre um filme, uma música. Uma amenidade qualquer. Não tão amena que caísse numa revista de fofocas (aí sim seria um insulto). Mas o suficiente pra deixar um pouco de pseudo-cultura numa galera que tem cultura pra dar e vender. E como é bom isso de vez em quando.

Era mais ou menos como se a Lílian Witte Fibe, no final do Jornal da Globo mandasse uma matéria que não fosse sobre economia ou política, sem aquela cara de nojo que ela costumava fazer. Sempre que via isso me deixava com uma fúria o bastante pra que perdesse o sono que acabara de chegar. Pelo menos nos próximos dez minutos. Agora nem sei por onde anda a Lílian. A última “notícia” que soube era que virara âncora do TV Terra... Pensando em amenidades e atualidades, apresentar um jornal virtual em um portal na internet pode ser o máximo. Mas para quem ancorou os principais telejornais da tv brasileira por anos, não sei. O pior é que provavelmente ganha os tubos com isso. Mas aí já é uma cisma pessoal que não admitia ver uma jornalista séria não considerar uma amenidade, uma matéria. E com certeza se sentiria insultada por alguém que dissesse a ela que é a responsável por falar de cinema e amenidades, sei lá. Só sei que dessa forma vivo bem. E muito melhor se escrevesse besteira no Caderno B, do Jornal do Brasil ou no Segundo Caderno do Globo. Ganharia bem pra falar o que sempre falo aqui. Ou pelo menos ganharia algo.

Saturday, July 08, 2006

Sou mais mambembe


Aloisio Santos_____ Filas quilométricas. Muita gente vidrada esperando por um evento que só vai acontecer daqui a cinco meses. Pagarão caro por isso. O mais barato custa duzentos reais. Afinal toda uma estrutura virá de fora do país para mostrar o que há de melhor no gênero e contam com centenas de profissionais de todas as partes do mundo. Há! Pensou que vinha um rock star? Errou longe, mesmo que muitos pensem que o status deles elevam-se a esse patamar. Mas é um circo. O Cirque du Soleil que trouxe uma nova visão para o espetáculo circense virá pela primeira vez ao Brasil.

Pelo que estamos acostumados a ver em programas dominicais e agora até em dvd’s é algo de encher os olhos. Malabares, trapezistas. Cores de todos os tons. Música e encantamento enfim. Mas quer saber? “Me inclua fora dessa”, como diriam alguns. Não que circo não seja algo interessante. Muito pelo contrário. Quem viu Orlando Orfei quando criança sabe o que um circo pode fazer. Era algo simplesmente mágico. Grandioso. É por isso que os que os canadenses pretendem mostrar não faz com que tire o meu suado dinheiro do bolso.

Uma conversa como essa de bar, mostra que o Cirque du Soleil é uma espécie de McDonald’s do mundo circense. É verdade. Tudo ali parece muito limpinho, tão asséptico. É bem verdade que estamos diante de algo muito bonito. Não há nenhuma dúvida. Mas é tudo cronometrado demais. Muito milimétrico. Não há suspense no trapézio. Não vemos nada que, obedecendo as devidas proporções, se compare aos garotos que fazem de sua vida circense o seu trabalho nas esquinas e sinais do país. Eles sim são artistas.

Não temos no Soleil animais, por exemplo. Eles garantem que assim o show é mais politicamente correto, pois não há maus tratos aos bichos. Há de se concordar com esse ponto. Dá dó ver tigres, elefantes, cães expostos ao ridículo. Mas como explicar para as crianças que esse circo não vai ter gente botando a cabeça na boca do leão, como você costumava contar para elas? E tigres saltando? Cavalos mostrando exuberância e destreza?

Ok. Vamos então para o lado humano da coisa. Não há nenhum “Merry go round” nas trilhas. Os canadenses fazem a própria trilha ao vivo como numa banda de rock. Divino. Quem nunca pensou nisso? Mas um tanto “muderno” pro que se pretende. Todos os participantes têm aqueles cabos que se usam em dublês de filmes de ação. Ou seja, mesmo nos erros não há rede embaixo. Lá se foi o suspense. E em vez da famosa maquiagem cheia de brilhos e exageros, eles aparecem com roupas e rostos vindos de um conto de fadas. Acabaram de colocar o ISO12000 no mundo do circo. O espetáculo da extrema perfeição.

Aqui não teremos Globo da Morte. Pessoas serradas ao meio. Tadinhas das crianças que ficarão noites sem dormir diante de momentos de total perversão humana. Com certeza não terá algodão doce, pipoca feita na hora na carrocinha. Quando muito um hot dog dos empreendimentos licenciados para vender com seus exclusivos pães feitos em trigo selecionado. E claro. Compre dois e ganhe um chaveiro. Nesses dias, palhaços não riem da desgraça alheia nem do outro palhaço para o nosso deleite, respeitável público. Eles colocarão suas máscaras e depois de duas horas (tá bom, menos...) eles se juntarão a uma comunidade internacional totalmente selecionada depois de anos de treinamento. Onde muitos deixaram suas medalhas de ginástica penduradas na parede devido à idade. Mas beleza. São artistas e merecem respeito.

Todos logicamente voltarão encantados para casa e comprarão toda a sorte de merchandising. Você já viu o dvd? Está perdendo tempo. Mas em uma coisa temos certeza. Hoje não vai ter marmelada. Não senhor

Wednesday, June 14, 2006

Vida que segue


Aloisio Santos ____ Quem viveu nos anos 70 e 80, deve se lembrar de uma revista chamada “MAD”. Nela tinha uma brincadeira no estilo “Você sabe que está perdido quando...”, “Você sabe que está falido quando...” e depois, vários desenhos hilários ilustravam a situação. Pois é. Neste caso eu faria um “Você sabe que está velho quando...”. E a resposta seria: “Quando nem um bolo de aniversário você teve em casa”. Mas tudo bem, você não espera que a certa altura do campeonato, sua mãe com mais de 70 anos levante-se com uma gripe daquelas pra ir pra cozinha e o resto da sua família quer mais que você Weissenfühder (só pra usar um “termo germânico” em dias de Copa). Mas mesmo assim não posso reclamar, afinal não faltaram parabéns, mensagens e telefonemas. Só no orkut, mais da metade dos meus amigos reais e virtuais mandaram pedaços de afeto, carinho e amizade. Agora, pensando bem, esse dia não seria exatamente uma amostra cômica, como na revista. Seria mais ou menos como um daqueles personagens de comédia besta americana onde um mauricinho faria um “L” com os dedos sobre a testa para você. Duvida? Ok, explico como foi.

Cinco e meia da manhã e o casal vizinho logo acima (que é famoso por acordar o prédio inteiro, de madrugada, realizando verdadeiros test-drives para elenco de filme pornô nacional) resolveu comemorar a noite do dia dos namorados quebrando todos os utensílios e móveis da casa. E bradando ao último volume qual dos dois é o mais insensato. Tudo bem, eu passei essa noite sozinho, por isso não reclamo de passar por situação igual. No máximo de que quem eu quero não me quer e daquela que você sempre quis dar uns pegas te ligar, dizendo que o casamento dela vai mal e que tem sonhado contigo... E de me fazer acordar 3 horas antes do costume, claro!

Bom, nada a fazer a não ser levantar. Mais um dia de labuta pra conseguir pouco mais do que dois salários mínimos. Isso depois de você aturar Deus e o mundo para isso e com aquela sensação de que tem quem ache que você nunca fez o suficiente (nem eu, claro!). E sou beijado pela minha gripada mãe e zoado pelo meu sobrinho e pela minha irmã (já perceberam que não moro sozinho claro...). Mas tudo bem. Eu trabalho em casa e em vez de ter um só chefe, tenho vários. Os meus clientes. E só pra bater um texto no Word a luz caiu várias vezes, porque além do banho demorado do meu sobrinho, todos os eletrodomésticos e luzes da casa estão ligados. O problema é que pela 4ª vez na minha vida, meu aniversário caiu no dia de um jogo do Brasil e perto de mais um feriadão. Isso significa que meu vizinho do lado vai passar o dia ouvindo aquele pagode fuleira, cantando dor de corno (e ele junto) as próximas 24 horas, ou 48, ou 72 talvez. Coisa que ele costuma fazer num fim de semana, me acordando 4 horas antes do que estou acostumado. Mas tudo bem, tenho o disco do Sepultura guardado aqui pro dia da vingança.

Ótimo. Dia de jogo do Brasil na Copa e meu trabalho vai ser em passo de tartaruga. Ligo pro pessoal onde vai ser a torcida. Casa de um amigo em comum. Ótimo, é perto de casa e não preciso encarar metrô ou ônibus (Carro? O que é isso?) em engarrafamento pra simplesmente ver um jogo. É só levar a birita ou o que quiser beber. Infelizmente meu fígado partiu de mala e cuia para outro corpo no 6° período da minha faculdade, por isso vou ter de ir de refrigerante. Chegando lá descubro que além de mim, só tem mais um solteiro na galera. O resto está com crianças pulando em frente da tv, em cima de todos os móveis e berrando mais do que o Galvão Bueno (graças a Deus). Uma delas me pegou pra Cristo com uma corneta no meu ouvido todo o 2° tempo. Pelo menos serviu pra não dormir daquele jogo sem tempero. E graças a Deus também conseguimos vencer.

Resultado magro no futebol e sem álcool na cabeça pra comemorar por besteira a solução é voltar pra casa. Pra mais uma noite de mais um dia. E só tenho a agradecer por isso. Por que eu sei que terei muitos como esse, multiplicados por 365 e multiplicado por várias vezes. Vida que segue.

Tuesday, May 23, 2006

Faxina, coisas velhas e piadas!

by Bel
Tem uma hora que não tem jeito. Nada cabe no armário. As gavetas não abrem, e se abrem não fecham nunca mais. Os livros estão lá na estante, mas ninguém consegue entender como eles estão lá. Seus papéis, documentos, contas e afins estão dentro da sua casa. Mas onde, meu Deus?
Então lá vamos nós para uma faxina. Cada um tem um jeito próprio de fazer isso (ou de ignorar a zona e continuar numa boa). O meu é assim: tudo, absolutamente tudo sai de dentro do quarto. Estantes, mesinhas, tapetes, cortinas, vídeo, DVD, televisão, cama. A única coisa que fica é o armário (até porque é um duplex e-nor-me, meu metro e meio não consegue fazer com que ele passe pela porta novamente). Então ele fica, mas completamente vazio, sem nada. A sala, os outros quartos, a cozinha, os banheiros ficam intransitáveis, entupidos de tralhas que eu prometo "Nunca mais isso volta para dentro do quarto".
E aí começo sempre pelo mais fácil: arrumar e separar as roupas. Tudo que está com cara de "não estou 100% limpo" ou que está com cheiro de armário vai para a lavanderia. Ou melhor para a pilha da lavanderia. O que não cabe vai para as pilhas "vou emagrecer e ele entra novamente", "com jeitinho ele cabe" e "não tem mais jeito". Tudo devidamente separado, dobrado e pendurado? É hora de encarar os papéis, documentos e afins... Afins é tudo aquilo que a gente guarda sem saber bem o motivo, mas temos certeza absoluta que tem utilidade crucial na nossa vida.
Quatro horas depois... estamos sentadas no chão, lendo agendas velhas, cartinhas, bilhetes, declarações de amor eterno (assinadas só com as iniciais, óbvio) em guardanapos de restaurante barato. Páginas e mais páginas de um passado que está meio manchado de vinho e cerveja. Esquecido em anotações sem sentido, com letras de pessoas que nem lembramos mais quem são.
Oito horas depois... tudo volta para dentro do quarto. Menos bagunçado, mas não arrumado. E o que sobra?
Mas bagunça para a próxima faxina.
E já que ontem foi dia de faxina aí vão duas pérolas sem data que encontrei no fundo de uma gaveta:
Definições de solteira:
A radical: é a sozinha por opção. Costuma ter relacionamentos rápidos.
Light: solteirice temporária. Usa a inteligência a serviço do sexo e é tranqüila.
Inconformada: foi A-BAN-DO-NA-DA por um grande amor e não se conforma em ficar sozinha.
Por condição: Já se conformou em viver sozinha depois de várias decepções. Acredita que encontrará um príncipe (encantado ou não).
Novata: acabou de se separar.
A "guerreira" inteligente:
Jamais sai com apenas UMA amiga
Evita sair com mais de QUATRO mulheres
SEMPRE tem papel e caneta na bolsa (mesmo não sendo jornalista)
NUNCA, de maneira nenhuma, dá pinta que quer desesperadamente um romance
Entende de: futebol, F1, vôlei, basquete...
Abre muitas frentes ao mesmo tempo
Carrega camisinhas na bolsa (várias aliás)
Espera três dias para ligar
Estabelece quem são suas vítimas
E interessante ANTES de ser interessada
Capricha na abordagem
E tem certeza: se um cara vale 7,5, ele pode ganhar 10. Depende da situação

Tuesday, May 09, 2006

Despedida


Bel_________
Volta Redonda, 5 de maio de 2006

Minha cidade está mais triste. O mundo menos honesto.

Sei que ele não era um homem público, conhecido e de fácil lidar. Mas é de um caráter ímpar, de uma honestidade e de uma generosidade a toda prova.

Ele nasceu antes da cidade, veio morar aqui e ela ainda não era nem mesmo sequer uma vila. Cresceu e se tornou HOMEM junto com a cidade. Um homem que quando jovem ia ao cinema de terno. De uma época em que roubar e matar eram crimes.

Aprendeu o que era amizade e a valorizar cada um dos amigos. Era o caladão da turma, o que estava sempre a postos para socorrer quem quer que precisasse. Aquele amigo que tem o pai com que todos sempre sonhamos. A casa aberta e festeira.

Tinha um jeito todo próprio de amar. Um jeito de demonstrar esse amor. Quieto, com os olhos, mais que com palavras e gestos.

O destino, sempre ele, resolveu que essa pessoa tão boa, que é óbvio também tinha lá seus defeitos, deveria ter uma espada sempre pendurada sobre sua cabeça. E por isso, seu coração tão generoso era também muito frágil. Entre um sobressalto e outro amava sem limites. Mas sempre por um fio...

Nos últimos anos se tornou mais falante, mais brincalhão, mais risonho. E acabou sendo o pai que todos gostariam de ter. Que mesmo sem poder sempre fez todas as vontades dos filhos, que amou e elogiou e se orgulhou tanto que o coração não agüentou.

Vivi pouco com esse adorável rabugento. O meu rabugento. Foram só 34 anos de vida em comum, os mais lindos e especiais de minha vida. E eu posso me orgulhar de dizer que (assim como meu irmão) tivemos o MELHOR PAI DO MUNDO. Eu sou o que sou por obra dele. Tenho caráter, personalidade e vontades porque ele me ensinou a nunca abaixar a crista. A não deixar que me usem, a mostrar o meu valor.

Hoje minha família que é ao mesmo tempo enorme e pequenina está um pouco menor.

Hoje minha cidade está menos honesta e o mundo mais triste.

Pai, te amo. Obrigada por me dar a chance de aprender tanto com você e de me dar uma família tão bonita e unida! Você é o homem mais especial do mundo e a gente nunca vai esquecer tudo o que você ensinou.

Sua filha brigona.

Friday, April 07, 2006

Intelectualóide



Aloisio Santos _________________
A palavra é “intelectualóide”.
Se ela existe, quem pode dizer? Na verdade existe a palavra “intelectual”, claro. Assim como todos sabem o que significa. Mas intelectualóide seria talvez algo que estivesse um pouco à margem. Como uma espécie derivada do intelectual, daí o seu sufixo. Assim como fazemos com “humanóide”, “andróide” etc. Mas dando uma boa observada por aí, nos intelectualóides aparecerão com facilidade. E só seguir esses passos:
Um intelectualóide está, ou se acha acima do que a maioria define como intelectual. Afinal quem é ele para se colocar em maiorias? Massificação é como se fosse quase que um palavrão. Embora adore um forró-brega na Feira de São Cristóvão. De música gosta de tudo um pouco desde que seja no original. Samba? Cartola. Pagode? Fundo de Quintal? Sertanejo? Almir Sater. Mas não sabe a real definição do que é um forró Pé-de-Serra ou um desses novos forrós universitários. Tudo em vinil da época. Mas não larga seu Ipod por nada. Livros? Alguns na estante e outros abertos pela casa. Lêem apenas o rodapé. Leitura para eles pode significar qualquer revista que tenha um título enorme e de preferência importado e comprado na Letras & Expressões. Jornais? Apenas o Segundo Caderno para concordar com o Xexéo, ou então a Revista de Domingo do JB para ver se a foto onde ele estava na praia, na altura do 9 foi publicada, enfim.
O intelectualóide anda como se estivesse sempre olhando para o espaço ou para o nada. E sempre com aqueles óculos de aros grossos ao máximo e quadrados que lhe conferem um ar de cdf ou nerd-fashion. Não há como saber se é proposital, mas há grandes indícios de que é verdade. Aquele jeito de quem está certo que a calçada é dele e qualquer coisa num raio de pelo menos uns 3 metros não lhe diz respeito, mesmo que seja um ônibus e o intelectualóide atravessando a rua num sinal fechado para ele. Em determinadas ocasiões eles simplesmente param do nada e mudam de direção como uma perua ao descobrir um sapato novo na vitrine de um shopping center classe AAA. Se nesse meio caminho ele vai se esbarrar em alguém, dane-se. A razão será sempre a dele. E eles conseguem fazer isso não em seus carros, mas a pé mesmo.
E em se tratando de carros, vamos falar deles. Para o intelectualóide nem é tão necessário assim. Ele pode andar de ônibus. Até naqueles que passam pelos lugares mais perigosos, simplesmente porque ele vai se dar ao luxo de ser politicamente correto nesses casos. Ele acha que perto do povão será mais uma prova de sua larga superioridade. Mas é claro que em grupos, os intelectualóides irão preferir aquele modelo europeu de carro. E vão comentar que o chic mesmo seria andar num Chevette Hatch Jeans 80.
E por associação vamos às reuniões de intelectualóides. Sim, eles andam em grupos senão não seriam definidos como espécie. Seus lugares prediletos são os museus, cafés, filiais de bares paulistas com cara de botequins cariocas. É de se esperar isso, uma vez que se derivam dos intelectuais. Mas eles têm diferenças. Adoram criticar os furadores de fila em noites de autógrafos, mas são os primeiros ao faze-lo graças justamente ao ar displicente de andar como vimos antes. No caso das cafeterias, preferem capuccinos. Mas não porque seja bom, mas porque adoram ver personagens de filmes bebendo litros de capuccinos e a qualquer hora do dia. Nos cinemas então a coisa sai dos eixos. Em vez de desligarem seus celulares, deixam no alerta vibratório. Tudo para atenderem no meio da sessão, dizer para quem está do outro lado da linha que está vendo o novo filme do Almodóvar (engraçado isso, já que preferem qualquer filme iraniano, armênio etc. O mais próximo de um filme comercial pra eles é o Woody Allen) e desligar. Até aí, já se vão uns 3 minutos de conversação e tome pipoca na lata. E por falar em pipoca, o intelectualóide não compra “combos”. Nem pipoca. Prefere aquele saquinho com 8 pães de queijo da lojinha da frente.
Na praia, é fácil o reconhecimento deles. Conseguem levar tudo o que tem direito em apenas uma sacola e mochila. Sabem com uma precisão diagnóstica de um dermatologista que filtros (isso... filtros!) usar. Apenas porque viram isso naquele canal a cabo que fala de saúde. São adeptos da boa saúde por isso bebem água de côco em vez de refrigerante, mas não o engarrafado e sim aquele que vem direto do côco. Mas jogam fora o fruto na cesta de lixo e deixam o canudo em qualquer esquina, no chão. Para eles, dos males o menor.
A casa de um intelectualóide é um fato histórico. Uma grande mistura de todas as culturas que ele “conhece” através das feiras artesanais por onde passou. Lógico que o intelectualóide é um cara viajado. Desde que apareceu a tv a cabo e internet, ele já foi a todos os lugares do mundo e comprou tudo o que estava na revista de comportamentos pelo Mercado Livre. Também adoram um brechó para pagar mais de 130 pratas por uma camiseta, um short ou alguma peça que já foi um dia de seus pais ou tios.
A religiosidade de um intelectualóide é indecifrável. Se levarmos em conta que a religiosidade vem muito da nossa crença e o intelectualóide um cético antes de tudo é difícil ver certas atitudes deles. Eles já foram em centros, missas, cultos, consultas de cartas, búzios e qualquer coisa que tenha um guru jogando penduricalhos para dizer sobre o seu futuro. Eles andam com camisetas com todos os santos existentes no catolicismo, mas não acreditam em Deus e são de uma superstição de assustar. Simpatias, jogos? Sabem todos e são capazes de dar diagnósticos diferentes para uma mesma pessoa em duas oportunidades diferentes. Uma logo depois da outra. Ele afinal quer se certificar do seu próprio ceticismo.
E já que tocamos no assunto religião, que tal então para uma outra religião brasileira? Futebol! O intelectualóide não esconde sua preferência pelo esporte bretão. Diz a escalação de todas as seleções desde 1950. Inclusive as substituições. Mas não sabe definir um impedimento. Eles sempre estão com algum uniforme ou algo que defina seu time de coração. Qualquer um que não ganhe títulos há pelo menos uns 15 anos. Ou o Flamengo, só para jogar na cara dos outros que foi campeão do mundo uma vez. Ver um jogo de Copa com um intelectualóide pode ser constrangedor, principalmente se for num bar. Ele vai passar por toda a torcida em frente à TV porque ele quer comprar mais um cigarro varejo e não no balcão do bar. Mas no garoto do outro lado da rua ou na banca de jornal ou num camelô qualquer.
Todos já vimos algumas dicas de como reconhecer um intelectualóide. Inclusive qualquer um pode ser um em potencial. Qualquer um pode sê-lo por completo. Pode ser eu, você...Mas não se assuste, pelo menos você não é uma espécie que corra algum risco de extinção.

Friday, March 03, 2006

Da arte de se carregar um filme nas costas


Aloisio Santos _____________
Philip Seymour Hoffman é aquele tipo de ator que todo mundo presta atenção. Sua capacidade de atuação, aliada à escolha de bons e variados personagens o fizeram memorável desde o mauricinho de “Perfume de Mulher”, passando caboman de “Boogie Nights” e pelo louco e alucinado assistente de caça-tornados em “Twister”. Mas as pessoas começaram a vê-lo com outros olhos a partir do papel de travesti em “Ninguém é perfeito”. Mas era sempre um coadjuvante. Só não era considerado um auxílio luxuoso porque seus cachês não eram estratosféricos e por logicamente, nunca ter feito um papel principal. E isso deve mudar agora, com “Capote”.
A história desse que é um dos principais filmes indicados ao Oscar, mostra o processo de criação do escritor Truman Capote naquele que é o seu livro definitivo - “A sangue frio”, que tenta destrinchar o assassinato de uma família inteira. Durante quatro anos, Capote envolveu-se com um dos assassinos e tentou ajudá-lo a sair do corredor da morte. Em troca, recebia todas as informações que queria. O que o filme focaliza é como um intelectual de Nova York pode se interessar pela história, fazendo-o sair do seu mundinho onde ele poderia dar uma de Caetano Veloso eternamente, para o mundo frio que se colocava na mente do assassino Perry Smith. Como companhia tinha sempre ao lado, a amiga de sempre Harper Lee, bem interpretada pela também indicada Catherine Keener. Lee é a autora de “O sol é para todos”, que assim como o “Bonequinha de luxo” de Capote viraram clássicos do cinema americano.
Mas há algo que intriga neste filme. São menos de duas horas que a direção tratou de deixar como se fossem quatro. Provavelmente ele quis mostrar a tensão entre um assassino agoniado em sua culpa ou um intelectual gay, que viu nesse assassino um mundo desconhecido... O final, mesmo para quem não conhece a história é previsível e também o diretor nos quer dar a impressão que será justamente o contrário. E é aí que “Capote” desanda. E cansa. Mas não tem como não deixar de glorificar a atuação de Hoffman. Assim como Jamie Foxx literalmente deixou-se incorporar por Ray Charles, Hoffman faz um Capote que só não seria melhor se fosse o próprio. Inclusive naquele gesto de colocar as mãos na cabeça como se estivesse pedindo um Dorflex.Se um filme calcado na atuação daquele que faz o personagem principal tem méritos, qualquer um pode dizer. Tanto que não faltam bons exemplos pra isso. Mas para que isso aconteça, o roteiro, a direção e demais partes técnicas devem contribuir pra ele e não o contrário. Um bom filme pode fazer um bom ator. E não o contrário.

Monday, February 27, 2006

É de 2005 e pena que só pude ver agora.


Aloisio Santos ________
Muitos disseram que o grande trunfo do vencedor do Oscar do ano passado, “Menina de ouro”, além dos atores e da direção de Clint Eastwood, está nas mãos do roteirista Paul Haggis. Ele, que veio como roteirista de seriados televisivos, mostrou-se capaz em fazer uma história de boxe que a princípio fugia do comum. Nesse mesmo ano ele escreveu e dirigiu um dos filmes mais incensados pela crítica e graças as suas seis indicações ao Oscar desse ano, inclusive ao prêmio máximo, deixaram “Crash – No limite” voltar às salas de cinema.
Por motivos que só os distribuidores e exibidores são capazes de descrever, este filme ficou pouco tempo em cartaz no circuitão, mas nunca deixou de ser exibido em salas menores. É mais um daqueles considerados pela indústria cinematográfica americana como baixo custo e mesmo assim não deixou de ter artistas bem pagos no elenco. E também é mais um daqueles que pega carona na esquizofrenia que o dia a dia de uma grande cidade da América (no caso, Los Angeles), passa. Claro que o tema é recorrente. Quem viu “Um dia de fúria”, sabe disso. A estética das estórias de várias pessoas comuns que se cruzam a certa hora, também. Mas Paul Haggis fez uma coisa incrível. Fazer um filme super tenso e denso sem precisar das correrias e truques de quinquilhões de imagens por segundo pra fazer você se sentir intimidado. Muito pelo contrário. E desde os primeiros dez minutos, até a última cena, parecem que todos no cinema dizem “Putz, que merda” a toda hora, dada às desgraças que se passam com os personagens.
Mas há quem diga que não é bom ver um filme aonde você vai se sentir intimidado e ver perrengues ocorrendo a toda hora. “Isso eu passo todo o dia”, dizem. Mas é esse o golpe no estômago que Haggis quer lhe dar. Se você pensa que está na pior, não se preocupe. Poderia ser muito mais e não há como não se colocar no lugar de cada um deles pra ver isso. Outra grande sacada, é que mesmo tendo atores super conhecidos e outros nem tanto e várias situações e personagens, as congruências são bem plausíveis e todos participam ativamente. Não é como numa novela de Manoel Carlos, que tem mais de 200 personagens e cada um tem pelo menos uma fala. Em “Crash”, todos realmente estão no bolo e todos têm participação quase que igual. Até porque estamos falando de Los Angeles, a cidade onde as misturas parecem mais evidentes. Negros, brancos, asiáticos, hispânicos de todo tipo e por aí vai. Para eles se entenderem no país dos livres e bravos e na terra das oportunidades, significa matar um leão por dia. O brabo é que na indicação em roteiro, ele concorre com o também ótimo “Match Point”, de Woddy Allen.
O mais engraçado, porém, é sair de uma porrada como essa do cinema, em pleno carnaval à tarde no Leblon. Um lugar onde as mil maravilhas de Manoel Carlos parecem existir. Mas temos mendigos deitados em todos os bancos do Rio Cidade e gente brincando sua folia sem dar a mínima. E mesmo assim, com as neuras de violência que temos, duas canadenses puderam se sentir seguras em um ônibus, onde pude levá-las a um albergue no Bairro Peixoto e tinham acabado de me conhecer. Apenas porque arranhava a língua inglesa. Quem viu o ver o filme saberá essa relação, inclusive com o título original. De pessoas que se esbarram, têm seus destinos traçados e não há como fugir deles. Pena que parece que vão premiar o filme dos caubóis... E pena que só pude ver "Crash" agora.

Thursday, February 16, 2006

E você, como dorme à noite?


Aloisio Santos _______
Em uma entrevista, anos atrás, o diretor Steven Spielberg não imaginava fazer um filme com violência e matanças. Ele que até então sustentado pelos blockbusters de grande apelo visual e em alta com o público de todas as idades deu como desculpa que queria fazer filmes que pudesse assistir junto com sua própria família. Bastou chegar a hora de “Lista de Schindler” mostrar histórias e dramas durante a 2ª Guerra para que as coisas mudarem de figura. E desde então, ele resolveu intercalar um filme dito sério, com um de entretenimento puro. Daí tem “Munique”. E ao contrário do que muitos pensam, não fala especificamente do massacre de atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos de 1972. O que se passa durante as quase três horas são justamente os contra-ataques nos dias seguintes.
Com um elenco predominante de ingleses, Spielberg conta a história de um grupo que tem a tarefa de eliminar cada um dos 11 responsáveis pelo atentado na Alemanha. E ele faz um grande filme de espionagem, no estilo dos que gostávamos de ver nos anos 70 e 60 em todos os aspectos. Tanto que se não fosse por um ou outro enquadramento e uma guerra entre grupos por um rádio (isso mesmo, um aparelho de rádio), talvez esse não fosse um filme dele. Mas o apuro, os detalhes, a trilha do John Williams, estão todos lá. E este “Munique” é uma mostra que as coisas mudaram pra Spielberg. Mas apenas na forma como ele mostra e conta suas histórias. A questão familiar é o que conta nesse filme. O que faríamos pra defender nossas famílias? E que conceito temos delas? Não importa quais decisões ou visões temos, contanto que possamos simplesmente estar conscientes dos nossos atos e ter uma boa noite de sono, todos os dias.
E os pesadelos do personagem principal vivido por Eric Bana, sobre como foram as horas de desespero na Alemanha, que nos fazem sentir um frio na espinha maior do que os provocados pelo ar condicionado do cinema. E durante o filme se segue a busca por vingança. É claro que a lição de moral sobre ações e reações violentas se mostra presente. Basta criar o mal que ele cresce feito praga e nesse caso, parece não adiantar cortá-lo pela raiz. Pode ser no Oriente Médio, no Haiti, na África ou na Rocinha. Mas independente de quem está (na busca) de razões é o como deitar a cabeça no travesseiro à noite, que move a estória. Acumular todos os seus medos e transformá-los em paranóia é válido para manter o statuo quo de uma nação, um povo, uma família?
Spielberg sabe como conduzir um bom drama e tivemos provas disso várias vezes. “Munique” é mais uma delas. Exceto pelo próprio Bana e sua cara de eterno atormentado que não ajuda. Até Daniel Craig passou no vestibular pro papel de 007 que irá desempenhar. Pois você já viu um filme de espionagem, sem perseguições implacáveis de carros por ruas estreitas e ainda assim ser um filmaço? De qualquer forma, este é um daqueles filmes pra se guardar na prateleira assim que sair o DVD, mesmo que saia de mãos abanando no Oscar. E que venha recheado de extras, claro.

Wednesday, February 15, 2006

Filme que faz falta


Aloisio Santos _________
A abertura sóbria remete aos filmes do Woody Allen. Só o título e jazz ao fundo. Quando entram as imagens em preto e branco, o incauto pode pensar que entrou na sala errada. Mas é no decorrer dos poucos mais de 90 minutos de “Boa noite, boa sorte”, que a verborragia e as auto-análises de Allen não têm lugar ali. E você nem notaria que é um filme dirigido por George Clooney, se não já o soubesse antes. É claro que o amigo diretor Steven “Traffic” Soderbergh deu umas aulas e você nota umas assinaturas dele em uma cena ou outra. Mas este filme produzido com modestos 7 milhões de dólares (pelo menos nos padrões hollywoodianos) e era pra ser um documentário anteriormente, teve a acertada idéia de leva-lo como um “filme comum”. O que o tornou mais acessível mostrar uma das inúmeras fases negras da história.
Os americanos parecem sempre movidos pelo terror. Seja pela cabeça do Bush ou por um insano senador de Wisconsin chamado Thomas McCarthy. Basta um republicano achar que alguém invadiu suas terras pra empunhar um bacamarte e mandar chumbo. E é o que motiva o filme. A cruzada do senador contra os que se opunham aos seus ideais de uma América supostamente livre e posteriormente estigmatizado-os de comunistas. Do outro lado, um jornalista de senso incrível de sua função perante a sociedade e aos seus telespectadores, chamado Ed Murrow. Murrow nos anos da tv movida a lenha, tinha um dos programas mais assistidos pelos americanos, o “See it now”, uma espécie de “60 minutes” daquela época. Com uma boa equipe e um ótimo trabalho investigativo, conduzia com maestria seu programa e dava credibilidade à sua imagem e à CBS, que produzia o seu show. No meio de denúncias, réplicas e tréplicas, eles mostram o que todo mundo sabe. Todos temos telhado de vidro. E na luta do bem contra o mal, vence aquele que está sempre a favor da verdade. E quem o faz dessa forma será sempre o Cavaleiro Branco.
Mas o grande trunfo de “Boa noite, boa sorte” (frase com que Ed Murrow finalizava seu programa) está na pesquisa e na fidelidade de se mostrar os “earlies 50’s”. Sempre pincelados com números de blues e jazz a cada situação. O que mostra que grande parte do custo do filme ficou exatamente nessa parte. Ponto pra eles. E também pros atores David Strathairn que faz o papel principal, e de George Clooney, que deixou de lado seus trejeitos de “já tomou seu Toddy hoje, baby?” para fazer o produtor do programa. Ambos indicados ao Oscar pelas suas atuações. E não seria exagero nenhum se um deles levasse o prêmio pra casa.
De qualquer maneira, “Boa noite, boa sorte” é um daqueles filmes obrigatórios tanto pra quem faz uma faculdade da área de humanas (os jornalistas estão dando pulos até hoje por isso), quanto para aquela turma de colégio que tem um dia pro cineminha na sala de áudio visual indicada pelo professor de história. Eles precisarão bastante disso. Que digam os alunos de cinema sentados ao meu lado, que se perguntavam a certa altura, quem era Ava Gardner.

Tuesday, February 07, 2006

A razão e a sensibilidade de Lee


Aloisio Santos _________
Anos 60. Um jovem cowboy procura um emprego na cidade. Como não consegue nada, vive na venda de seu corpo e tem um relacionamento com o seu, digamos, gigolô. Nesse mesmo ano, dois outros cowboys estão mais pra ladrões do que realmente vaqueiros, mas sua “parceria” fez bem pra carreira dos dois. E em outra situação, um velho cowboy mostra toda sua bravura indômita. Isso tudo em um ano só.
Mas tudo isso não foi real. Eram os filmes “Perdidos na noite”, “Butch Cassidy” e logicamente “Bravura indômita”. Engraçado como nos anos 60, os americanos já gostavam de mexer com seus mitos, e em particular o famoso vaqueiro. Símbolo de toda masculinidade e força e poder do americano típico. Dois eram ladrões, um já estava um tanto velho pra atuar, e o outro teve um caso gay. E todos eles ganharam seu Oscar, mas o que causou mais espanto foi justamente “Perdidos na noite”. O vencedor do ano e que revelou o pai da Angelina Jolie, Jon Voight.
Quarenta anos depois, o cinema hollywoodiano está grilado. Afinal, numa América cada vez mais conservadora, moralista, militarista e idiota no sentido mais amplo poderia absorver bem os pensamentos criativos de quem lida com a arte mais valorizada do país? Nada melhor do que mexer no feridão para ver o que acontece. E é essa a sensação que o favorito ao Oscar desse ano “O segredo de Brokeback Mountain” de Ang Lee quer passar.
Mas Lee já mostrou que não é um diretor qualquer. Quem viu “Razão e Sensibilidade” e “O tigre e o dragão” sabe disso e que ele mostra que a China tem muito mais que Jackie Chan e filme de porrada coreografada. Mas qual é a grande diferença se há 40 anos atrás os americanos viam um cowboy ter um caso gay no cinema?
A grande diferença é que Lee juntou um elenco improvável. Heath Ledger (uma das muitas tentativas de se criar um novo James Dean), Jake Gyllenhaal (um Tobey Maguire com mais tino pra atuação) e Michele Williams (que é mais conhecida por ser a adorável problemática Jen da série de TV “Dawnson’s Creek”) e os fez trabalhar com a razão e obedecendo bem as técnicas de uma boa atuação. Teve sensibilidade capaz de fazer em pouco mais de 2 horas de filme, com que dois caipiras americanos passasem o tempo se amassando e discutindo a relação. Isso mesmo, discutindo a relação! Como isso é possível nos anos 60? Não foi. E durante os 20 anos da história do inusitado casal, eles tentam levar suas vidas miseráveis, enganando a si próprios e de vez em quando tendo as montanhas do Wyoming como testemunha de que os sonhos deles eram realizáveis. Isso significa que tratar o filme como um “romance cowboy gay” é simplificar demais as coisas.
Esse é o grande mérito de Lee, que se não tiver a sua estatueta como os prognósticos apontam, terá pelo mais um cult movie em seu currículo. Mas não mais do que isso. Ele já fez filmes com muito mais razão e muito mais sensibilidade do que este. Não que “O segredo de Brokeback Mountain” não o tenha. É que os americanos costumam de vez em quando passar por cima de seus próprios mitos e mostrar outras faces da mesma moeda. Se o vaqueiro daquela marca de cigarros morreu de câncer e muitos outros atores conhecidos pelos faroeste,s com seus personagens viris não eram exatamente viris. Tudo é possível, ou já demonstrado.

Monday, January 23, 2006

Nova mesa de bar - Turma do Naum

O que é a "Turma do Naum"? Pra você "Naum" é apenas um meio preguiçoso de digitar a palavra negativa e em "internetês"? Errado! A Turma do Naum é um grupo de discussões variadas. Políitica, cultura, e um bom apanhado do cenário do Brasil e do Mundo. Se você quiser parte e se sentar desta mesa de bar ainda mais interativa que este singelo blog, a hora é essa! Basta enviar seu e-mail, se inscrevendo no grupo. O meu camarada e moderador, o publicitário Alexandre Borges, aceitará seu pedido de inscrição com prazer :)

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Sunday, January 22, 2006

Desconstruindo musas


Aloisio Santos______________
As damas desta mesa de bar me dão licença, mas vou falar de mulher. De musas na verdade. O carnaval está perto e vem por aí uma enxurrada de beldades na luta por um flash e quem sabe virar tema de conversa de mesas de bares pelos próximos dois meses no mínimo. Se virarem capa da Playboy duram mais dois meses. E desde os anos 80, as escolas mostraram toda a beleza feminina brasileira nas melhores formas. E nas piores também, vide a decepção da Carla Perez e da Tiazinha, que se um dia sexy symbols, não tem lá esse carisma todo pra Praça da Apoteose.
Mas essa semana um fato me deixou com a pulga atrás da orelha. Uma das grandes musas do carnaval, Luma de Oliveira, chamou a imprensa (de novo) pra dizer que não vai desfilar. Isso faltando apenas um mês pro carnaval. Deu como desculpa, a família. A mesma desculpa que anos atrás virou um dos maiores factóides do carnaval. Tenho um grande tesão pela Luma, mas ela pelo jeito ta a fim de ganhar o “Troféu Renata Banhara” desse ano. Bom, pra quem não sabe quem ou o que é a Renata Banhara vou explicar. Renata Banhara é uma modelo-manequim (sei lá) que costuma aparecer nesses programas de auditório paulista ou em programas no estilo Amaury Junior. E justamente na época do carnaval. Os paulistas parecem adorá-la como se tivesse algo importante nesse mundo de Deus, além dela ser uma daquelas recordistas de maior número de escolas de samba a desfilar em um único ano. Como acredito que aqui no Rio vai bater de frente com zilhões de mulheres muito mais bonitas e que sambam muito mais do que ela, a terra da garoa lhe dá esses minutos anuais de fama.
A Luma de Oliveira junto com a Luiza Brunet disputam palmo a palmo o título de musa do carnaval. Os mais saudosistas podem preferir as brigas entre Emilinha Borba e Marlene. Mas nada foi tão avassalador quanto o desfile da Luma em 87 (se não me engano) de topless.
Agora você me pergunta: “O que tem de mais num topless, num desfile de escola de samba? Já vi mais que isso!”. Aí respondo que a Luma naquele ano teve quesitos, subjetivos e objetivos a mais que nenhum jurado poderia descrever ou dar nota. E deste então entrou na mente dos brasileiros como uma preferência nacional. Esses quesitos a nomearam como Musa do Milênio da Playboy Internacional. Se é bolinho ou não. Não sou eu quem vai discutir. E a vi pessoalmente apenas de calça jeans e camiseta branca e sem maquiagem num show do João Bosco. Fiquei em alfa por uma semana e não foi por causa da música do João Bosco que gosto de ouvir. É por essas e outras que se a Luma queria criar outra polêmica, vai precisar de um Sonrisal, porque ninguém ouviu. E ela não precisa disso.
E por falar em musas. A atual musa da moda (fashion é o cacete), Gisele Bündchen na TV tocando “Wish you were here”, do Pink Floyd! Disse que aprendeu em apenas três meses. Lembro que até uns anos atrás, a primeira música que todo guitarrista frustrado quer aprender é “Stairway to heaven”, do Led Zeppelin. Até que não foi de todo mal na apresentação. Tanto que ela fez em três meses o que o meu vizinho tenta fazer há oito anos, desde que se mudou pra cá. A sorte desse vizinho é que o David Gilmour não está morto pra se revirar no túmulo a cada tentativa frustrada. Mas o azar é que se ele descobre, pode até mandar um paletó de madeira pra ele.

Monday, January 02, 2006

Todos querem



Aloisio Santos__________
Uma boa resolução de ano novo pra dar certo, precisa começar ainda no dia 31. E foi o que fiz. Com a mente fixa de que muito deveria mudar na minha vida, fiz o caminho inverso da maioria. Enquanto todos se acotovelavam no metrô e nos ônibus para Copacabana, parti em direção a Botafogo. Mais precisamente um prédio alto que fica sobre o Túnel do Pasmado. Tinha a missão de retomar um ofício que não fazia há uns 13 anos pelo menos: o de DJ. Além disso, tinha de suprir uma certa necessidade. A de apenas tocar músicas dos anos 80. Claro que não me servi das quinquilharias que faziam a festa dos programas de auditório. Peguei o que considerava imprescindível da época e juntei conteúdo suficiente pra uma festa de quase 12 horas de duração. Eu já tinha em mente que não faria mais esse papel simplesmente por falta de paciência (ou saco mesmo, sabe lá). Mas até 19 horas do dia 31 e vi que meu 2005 tirando umas pequenas vitórias, foi mesmo um desastre. Até a minha namorada sequer deu sinal de ida se viria para Copacabana com sua trupe familiar. Mas junto a isso, tenho uma eterna dívida de gratidão com a família dos donos da festa. Resultado: juntei o útil, o agradável, o conveniente e um bom começo para colocar meu plano 2006 em prática.
E querem saber? Foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Daquela altura, via-se a Baía de Guanabara que fez uma festa brilhante de fogos no Flamengo e Icaraí. Duraram muito mais tempo do que os de Copacabana, como pude perceber pelos fogos do Leme que ainda conseguia ver por trás da Torre do Rio Sul. E eram mais bonitos também.
Todos parecem precisar desse ritual de passagem todos os anos. Como não fossem capazes de executar toda vez que colocam os pés fora da cama. Gostam de ter o exercício sado-masoquista de acumular por 365 dias todas as injúrias, tristezas, mazelas, furos (seja no bolso ou na consciência) e ainda por cima juntam com o que tiveram de pior na vida. Pra que em um único segundo passem a abraçar quem está do lado, sorrirem à toa, beberem até cair. E tem quem diga que Carnaval é uma vez no ano somente. Mas há um fator que sempre nos escapa quando entramos nesse ritual: o tempo. Nada é tão implacável e ao mesmo tempo tão restaurador para a mente humana do que o tempo. Não digo o tempo no conjunto passado-presente-futuro. Mas o tempo criado por nós, homens. O divisível em horas, dias, meses e anos. Aquele que nos prende e nos escraviza. Que nos faz dependentes de cartas de alforria e de alguns réis que garantam isso. E a esse mesmo tempo junta-se a vontade de sempre passar em primeiro na linha de chegada, seja no circuito da realização pessoal ou profissional, ou simplesmente para pagar as contas em dia.Voltando à festa, notei que nas músicas que colocava de 20 anos atrás, elas eram atemporais. Não porque vivi esse tempo. Mas porque esse revival tinha em cada melodia e letra, algum sentido de que o tempo que criamos não as deixou no ostracismo. Não era jogada de marketing ou nostalgia de quem não saiu da adolescência. Era constatação mesmo. Tanto que passada a noite, fiz questão de ver a Baía de Guanabara do alto de uns 100 metros, talvez, com seus primeiros raios de sol de 2006 ao som de “Everybody wants to rule the world” dos Tears for Fears. As primeiras frases dessa música dão boas vindas à nossa verdadeira vida e que não há volta. Ótimo! Fiz meu ritual de passagem e eu mesmo busquei o remédio ideal para isso. Nada tão comum quanto 2 milhões de pessoas fazendo o mesmo que você, mas fácil o suficiente para perceber que todos querem mandar no mundo, nem que seja o nosso mundo. Foi preciso apenas voltar pra 1986 e começar do zero. Sem precisar fazer tudo de novo. Afinal, quando acordar já estarei novamente em 2006.