Saturday, July 08, 2006

Sou mais mambembe


Aloisio Santos_____ Filas quilométricas. Muita gente vidrada esperando por um evento que só vai acontecer daqui a cinco meses. Pagarão caro por isso. O mais barato custa duzentos reais. Afinal toda uma estrutura virá de fora do país para mostrar o que há de melhor no gênero e contam com centenas de profissionais de todas as partes do mundo. Há! Pensou que vinha um rock star? Errou longe, mesmo que muitos pensem que o status deles elevam-se a esse patamar. Mas é um circo. O Cirque du Soleil que trouxe uma nova visão para o espetáculo circense virá pela primeira vez ao Brasil.

Pelo que estamos acostumados a ver em programas dominicais e agora até em dvd’s é algo de encher os olhos. Malabares, trapezistas. Cores de todos os tons. Música e encantamento enfim. Mas quer saber? “Me inclua fora dessa”, como diriam alguns. Não que circo não seja algo interessante. Muito pelo contrário. Quem viu Orlando Orfei quando criança sabe o que um circo pode fazer. Era algo simplesmente mágico. Grandioso. É por isso que os que os canadenses pretendem mostrar não faz com que tire o meu suado dinheiro do bolso.

Uma conversa como essa de bar, mostra que o Cirque du Soleil é uma espécie de McDonald’s do mundo circense. É verdade. Tudo ali parece muito limpinho, tão asséptico. É bem verdade que estamos diante de algo muito bonito. Não há nenhuma dúvida. Mas é tudo cronometrado demais. Muito milimétrico. Não há suspense no trapézio. Não vemos nada que, obedecendo as devidas proporções, se compare aos garotos que fazem de sua vida circense o seu trabalho nas esquinas e sinais do país. Eles sim são artistas.

Não temos no Soleil animais, por exemplo. Eles garantem que assim o show é mais politicamente correto, pois não há maus tratos aos bichos. Há de se concordar com esse ponto. Dá dó ver tigres, elefantes, cães expostos ao ridículo. Mas como explicar para as crianças que esse circo não vai ter gente botando a cabeça na boca do leão, como você costumava contar para elas? E tigres saltando? Cavalos mostrando exuberância e destreza?

Ok. Vamos então para o lado humano da coisa. Não há nenhum “Merry go round” nas trilhas. Os canadenses fazem a própria trilha ao vivo como numa banda de rock. Divino. Quem nunca pensou nisso? Mas um tanto “muderno” pro que se pretende. Todos os participantes têm aqueles cabos que se usam em dublês de filmes de ação. Ou seja, mesmo nos erros não há rede embaixo. Lá se foi o suspense. E em vez da famosa maquiagem cheia de brilhos e exageros, eles aparecem com roupas e rostos vindos de um conto de fadas. Acabaram de colocar o ISO12000 no mundo do circo. O espetáculo da extrema perfeição.

Aqui não teremos Globo da Morte. Pessoas serradas ao meio. Tadinhas das crianças que ficarão noites sem dormir diante de momentos de total perversão humana. Com certeza não terá algodão doce, pipoca feita na hora na carrocinha. Quando muito um hot dog dos empreendimentos licenciados para vender com seus exclusivos pães feitos em trigo selecionado. E claro. Compre dois e ganhe um chaveiro. Nesses dias, palhaços não riem da desgraça alheia nem do outro palhaço para o nosso deleite, respeitável público. Eles colocarão suas máscaras e depois de duas horas (tá bom, menos...) eles se juntarão a uma comunidade internacional totalmente selecionada depois de anos de treinamento. Onde muitos deixaram suas medalhas de ginástica penduradas na parede devido à idade. Mas beleza. São artistas e merecem respeito.

Todos logicamente voltarão encantados para casa e comprarão toda a sorte de merchandising. Você já viu o dvd? Está perdendo tempo. Mas em uma coisa temos certeza. Hoje não vai ter marmelada. Não senhor