Friday, November 25, 2011

Pais e Filhos


Aloisio Santos ____ Dias e dias tenho visto nas redes sociais, mensagens muito belas sobre afetividade e a falta que sentimos de nossas mães e do quanto desejamos que elas fossem eternas. Verdade claro, com grande senso de justiça e por motivos óbvios. Já fiz um grande texto em homenagem a ela e do quanto gostaria que o destino a deixasse ainda comigo. Porém em dias como os dia hoje, especialmente, me faz ter muita saudade do meu pai. É, realmente o dia 25 de novembro é marcante, pois dentre todas as perdas, materiais, pessoais e por aí vai, essa foi uma das mais emblemáticas. Talvez por ter sido a primeira que me deixou em um estado de adrenalina limítrofe, fazendo com que a ficha caísse somente umas duas semanas mais tarde.

É em dias assim, que o senso comum de achar que os pais são heróis aparecem na minha mente. Essa é a correspondência que damos aos nossos pais. Eles são os heróis, enquanto as mães são eternas. Sempre acreditei que eles possuem as duas qualidades. Meu pai é eterno todas as vezes em que passo pelo Aterro do Flamengo e me faz lembrar daqueles passeios de domingo que ele adorava fazer e de comprar brinquedos simples como aqueles cataventos que teimavam em não girar logo depois que o vendedor deixava na minha mão. As festas de fim de ano eram sempre mais motivadas por causa dele. Assistir aos fogos de réveillon na Praia de Copacabana eram obrigatórios, mesmo que ele não pisasse mais na areia pra tomar um banho de sol há anos. Caminhar pelo calçadão em dias de sábado com jogos de futebol de onze eram liturgia sagrada.

A parcela herói que guardo está em suas batalhas diárias. De como era difícil manter uma sobrevivência unicamente por suas mãos, enquanto eu não estava ainda em idade devidamente produtiva para isso. Carregar uma mala pesada de ferramentas com um martelo daqueles igual ao do Thor, davam uma especial condição de heroísmo, principalmente depois dos 55 anos, quando a sua kriptonita, o cigarro, começou a dar seus primeiros sinais de existência. Assim como também adorava rir das insanidades dos filmes de ação. Gargalhava ao ver o Rambo explodir um militar vietnamita, com uma flecha de ponta especial. Os do Schwarzenegger então, nem se fala. Mas pelo menos, o Indiana Jones eu o fiz admirar, porque por mais mentiras que tivesse, esse era um dos heróis mais humanos que conheci do cinema. Mas as aventuras de guerra eram o seu fascínio. Acho que isso se deve ao fato de todo herói ter uma frustração. A dele era de não poder seguir uma promissora carreira na aeronáutica devido a uma pressão familiar.

Essa ligação entre o ser herói e o humano sempre me fascinou. Aquela coisa que não é exatamente de ter uma identidade secreta. Gosto que todos saibam quem é o herói e qual a sua verdadeira identidade e o que ele precisa fazer em um mundo real para que as coisas aconteçam como ele quer e vencer seus inimigos. Pais são assim. É como se eles fizessem questão disso e tudo o que precisam não é reconhecimento, nem o beijo da mocinha no fim. Basta uma cama bem confortável para recarregar as forças para o dia seguinte de luta e o meu xará era assim.

Mas lembrando da adrenalina do dia em que se foi e alguns outros que se sucederam, em que tive que ser tão herói e ao mesmo tempo tão humano para não deixar minha mãe cair junto é que me fazem lembrar sempre que o dia 25 de novembro tem uma característica peculiar. Ele simplesmente passou aquela noite de domingo, vendo comédias comigo, deu boa noite para não mais acordar. Diz minha mãe que ele ainda falou “Boa noite, minha baixinha”. Foi como se fosse uma despedida de verdade. É em dias assim, que me dou conta e que por vezes caio como todo herói de cinema, mas sempre vou lembrar de momentos simples e que os fazem ser eternos. Sinto falta, principalmente de como ele reagia a certas coisas atuais. Tecnologia, por exemplo. De que ele iria adorar ver a linda esposa que tenho (e sacana como ele era, iria me pedir emprestado pelo menos aos domingos para namorá-la no meu lugar). Ou então de achar que o seu time de futebol vive mais de marketing e de ídolos que não correspondem suas expectativas. São efêmeros e meros instrumentos para vender camisas com seus nomes nas costas.

Mas é isso aí, velho. Sei que você não bebia, mas guarde uma cerva bem gelada para um dia desses qualquer. Certamente vou ter muitas coisas para contar. Até porque ainda pretendo fazer muitas coisas baseadas em seus conceitos de vida por aqui. E é disso que os humanos-heróis são feitos.