Monday, September 04, 2006

Amenidades


Aloisio Santos _____ Alguns de vocês não sabem, mas faço parte de um grupo de discussão chamado “Naum”. Surgido da idéia de um amigo meu em fazer um contato mais próximo com amigos em comum e com a família, já que ele mora em São Paulo. Mas diferente da maioria dos grupos de discussões existentes, não tem nada de “nerd”. Ninguém vai falar sobre o biquini dourado da Princesa Leia em “O Retorno de Jedi”, ninguém vai falar sobre um novo videogame que pode desbancar o PS2, tampouco pra jogar ovos virtuais num grupo de pagode. O papo é super amigável, embora tenha algumas normais rusgas, pois tudo rola como num clima de mesa de bar. E graças aos acontecimentos atuais do nosso país tem seus assuntos centrados mais na política, na economia, negócios, pessoas e... De vez em quando sobre o biquíni dourado da Princesa Leia, já que ninguém é de ferro. E dias atrás, depois de quase um ano de atividades, parte do grupo saiu do virtual para a real mesa de bar. Não que já nos conhecêssemos, muito pelo contrário. Todos com raras exceções têm amizades de anos, o que deixou a roda mais incrível. Mas o que me deixou feliz mesmo foi a forma como fui apresentado aos que não conhecia pessoalmente. “Este é o Aloísio... o que fala de cinema e amenidades... O Caderno B do Naum”.

Pra muita gente, num grupo que costuma discutir basicamente coisas bem sérias, isso pode cair na cabeça como um insulto. Errado. Pelo menos pra mim, foi o maior dos elogios. Estava num bar de frente para a Praia de Ipanema. Bem embaixo de onde existia uma casa de shows chamada Jazzmania, onde o melhor do Free Jazz (atual Tim Festival) costumava dar canjas e onde surgiu bastante gente boa da nossa música, como a Marisa Monte, por exemplo. Quer mais ameno do que isso? Fui posto numa posição onde na hora dos ânimos mais exaltados viessem à tona e chegarem quase na pancadaria (pelo menos no ramo das idéias), eu viria com uma conversa sobre um filme, uma música. Uma amenidade qualquer. Não tão amena que caísse numa revista de fofocas (aí sim seria um insulto). Mas o suficiente pra deixar um pouco de pseudo-cultura numa galera que tem cultura pra dar e vender. E como é bom isso de vez em quando.

Era mais ou menos como se a Lílian Witte Fibe, no final do Jornal da Globo mandasse uma matéria que não fosse sobre economia ou política, sem aquela cara de nojo que ela costumava fazer. Sempre que via isso me deixava com uma fúria o bastante pra que perdesse o sono que acabara de chegar. Pelo menos nos próximos dez minutos. Agora nem sei por onde anda a Lílian. A última “notícia” que soube era que virara âncora do TV Terra... Pensando em amenidades e atualidades, apresentar um jornal virtual em um portal na internet pode ser o máximo. Mas para quem ancorou os principais telejornais da tv brasileira por anos, não sei. O pior é que provavelmente ganha os tubos com isso. Mas aí já é uma cisma pessoal que não admitia ver uma jornalista séria não considerar uma amenidade, uma matéria. E com certeza se sentiria insultada por alguém que dissesse a ela que é a responsável por falar de cinema e amenidades, sei lá. Só sei que dessa forma vivo bem. E muito melhor se escrevesse besteira no Caderno B, do Jornal do Brasil ou no Segundo Caderno do Globo. Ganharia bem pra falar o que sempre falo aqui. Ou pelo menos ganharia algo.