Sunday, April 17, 2011

Por um pouco de redenção


Aloisio Santos___ Sessenta e seis anos. Essa é a distância que separa a “homenagem” americana dos Estúdios Disney ao mercado brasileiro em “Você já foi à Bahia?”, de uma produção que faz da Cidade Maravilhosa o seu cenário. “Rio” não foi somente aguardado pelos brasileiros, mas principalmente pelos cariocas que mal viram o primeiro trailer para contarem os dias para ver esta animação que, pela fidelidade com que retrata a cidade, só poderia mesmo vir da cabeça de um brasileiro - Carlos Saldanha - que já atuava na linha de frente da franquia “A Era do Gelo”.

A ave de agora não é mais o papagaio malandro tentando mostrar para um marinheiro típico americano como se anda pelas cidades brasileiras. Quem é das antigas, como eu, fez esta associação e por isso quem é dessa época, certamente se esqueceu essa obra-prima e quem é da geração 3D nem vai pensar nisso. É o filme atual que vão usar como referência. Talvez porque nesse longo espaço de tempo que separa Zé Carioca de Blu, os americanos e todos os países acima da linha do Equador, continuaram com a idéia bem errada do que somos. A não ser pela bossa-nova e pelos gols do Pelé que vieram nesse intervalo. É claro que as alfinetadas sobre a real geografia do Brasil estão presentes. É claro que a real música brasileira não é o mambo e nem a rumba e foi preciso um nativo para mostrar tudo. Ficou meio que guardada aquela associação de “enfim vão fazer um filme realmente como nós somos para o mundo ver”. De certa forma, acho que foi bem mais do que isso, foi para ver todo o nosso ego alimentado em gás hélio.

Também não espere por um roteiro brilhante, isso é uma animação. É feito para crianças e para adultos levarem as crianças sem culpa. Vai ter avô e tio querendo inventar história para tirarem os pentelhos da frente do Playstation. Com isso a história que tem o casal de araras azuis Blu e Jade em suas buscas individuais, que mostra o contrabando de aves e a preservação das espécies, serve apenas de ponto de ligação para as inúmeras situações de riso extremo, com MUITAS de êxtase profundo. Para os cariocas então, é como dizer o quanto somos foda, mermão. Por isso também esqueçam que não dá pra sair da Pedra Bonita de asa delta para descer em Copacabana, assim como o pé do Morro da Rocinha não é a Lapa.

Mas o que importa é que em “Rio”, que vale muito a pena ver em 3D e dublado (por incrível que pareça), é que este foi um gol de letra em um Maracanã lotado em cima do Uruguai em 1950, revertendo toda a história. Pode-se ver ufanismo sem nacionalismo, espetáculo sem esquecer a realidade, fascínio com ternura e mais do que tudo, deixar de lado aquela coisa de que tudo que é feito Made in Brazil, é para gringo ver. Na verdade é sim, só que de forma bem correta, didática, fiel, animada e emocionante. Vai ter gente em fevereiro no ano que vem torcendo para, quem sabe, ver o gol da final com Carlos Saldanha levantando a taça e esperando por ele para recebê-lo em cima do carro dos bombeiros.

E para os cariocas “roxos” como eu, um baita sorrisão no rosto, com aquele ar de “Chupa, Zé Carioca”!

1 comment:

Roneyb said...

Eu adorei o filme! Acho que toda obra poderia ter mais ou menos essa formula: tema central ambientado em uma cultura retratada com respeito e uma trama paralela que desperte questionamentos sociais, ecológicos etc.

As imprecisões geográficas são uma tolice, ou será que alguém realmente gostaria de ter notas de rodapé no filme informando "na verdade esses dois pontos turísticos ou importantes da cidade não ficam na mesma região e os nossos heróis teriam que pegar um taxi ou o ônibus 473 para chegar no outro ponto em 20 ou 40min" :)

Vi tb quem reclamasse do trafico de animais, no entanto foi justamente uma das coisas que mais gostei! É de vital importância para acabar com ele que as crianças do mundo inteiro saibam que isso acontece e que é ruim para os animais.

Gostei muito tb da forma como mostraram o carnaval. A dentista no bloco logo no começo ficou perfeita: no Rio quase todo mundo se fantasia e vai curtir o carnaval :) bem, menos eu que sou nerd à moda antiga ;)