Monday, January 02, 2006

Todos querem



Aloisio Santos__________
Uma boa resolução de ano novo pra dar certo, precisa começar ainda no dia 31. E foi o que fiz. Com a mente fixa de que muito deveria mudar na minha vida, fiz o caminho inverso da maioria. Enquanto todos se acotovelavam no metrô e nos ônibus para Copacabana, parti em direção a Botafogo. Mais precisamente um prédio alto que fica sobre o Túnel do Pasmado. Tinha a missão de retomar um ofício que não fazia há uns 13 anos pelo menos: o de DJ. Além disso, tinha de suprir uma certa necessidade. A de apenas tocar músicas dos anos 80. Claro que não me servi das quinquilharias que faziam a festa dos programas de auditório. Peguei o que considerava imprescindível da época e juntei conteúdo suficiente pra uma festa de quase 12 horas de duração. Eu já tinha em mente que não faria mais esse papel simplesmente por falta de paciência (ou saco mesmo, sabe lá). Mas até 19 horas do dia 31 e vi que meu 2005 tirando umas pequenas vitórias, foi mesmo um desastre. Até a minha namorada sequer deu sinal de ida se viria para Copacabana com sua trupe familiar. Mas junto a isso, tenho uma eterna dívida de gratidão com a família dos donos da festa. Resultado: juntei o útil, o agradável, o conveniente e um bom começo para colocar meu plano 2006 em prática.
E querem saber? Foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Daquela altura, via-se a Baía de Guanabara que fez uma festa brilhante de fogos no Flamengo e Icaraí. Duraram muito mais tempo do que os de Copacabana, como pude perceber pelos fogos do Leme que ainda conseguia ver por trás da Torre do Rio Sul. E eram mais bonitos também.
Todos parecem precisar desse ritual de passagem todos os anos. Como não fossem capazes de executar toda vez que colocam os pés fora da cama. Gostam de ter o exercício sado-masoquista de acumular por 365 dias todas as injúrias, tristezas, mazelas, furos (seja no bolso ou na consciência) e ainda por cima juntam com o que tiveram de pior na vida. Pra que em um único segundo passem a abraçar quem está do lado, sorrirem à toa, beberem até cair. E tem quem diga que Carnaval é uma vez no ano somente. Mas há um fator que sempre nos escapa quando entramos nesse ritual: o tempo. Nada é tão implacável e ao mesmo tempo tão restaurador para a mente humana do que o tempo. Não digo o tempo no conjunto passado-presente-futuro. Mas o tempo criado por nós, homens. O divisível em horas, dias, meses e anos. Aquele que nos prende e nos escraviza. Que nos faz dependentes de cartas de alforria e de alguns réis que garantam isso. E a esse mesmo tempo junta-se a vontade de sempre passar em primeiro na linha de chegada, seja no circuito da realização pessoal ou profissional, ou simplesmente para pagar as contas em dia.Voltando à festa, notei que nas músicas que colocava de 20 anos atrás, elas eram atemporais. Não porque vivi esse tempo. Mas porque esse revival tinha em cada melodia e letra, algum sentido de que o tempo que criamos não as deixou no ostracismo. Não era jogada de marketing ou nostalgia de quem não saiu da adolescência. Era constatação mesmo. Tanto que passada a noite, fiz questão de ver a Baía de Guanabara do alto de uns 100 metros, talvez, com seus primeiros raios de sol de 2006 ao som de “Everybody wants to rule the world” dos Tears for Fears. As primeiras frases dessa música dão boas vindas à nossa verdadeira vida e que não há volta. Ótimo! Fiz meu ritual de passagem e eu mesmo busquei o remédio ideal para isso. Nada tão comum quanto 2 milhões de pessoas fazendo o mesmo que você, mas fácil o suficiente para perceber que todos querem mandar no mundo, nem que seja o nosso mundo. Foi preciso apenas voltar pra 1986 e começar do zero. Sem precisar fazer tudo de novo. Afinal, quando acordar já estarei novamente em 2006.

2 comments:

Roneyb said...

Salve Alusa!

Escrevi coisas muito parecidas lá no meu blog. O ponto principal que destaco em tudo que vc disse é esta mania de se arrastar ao longo dos outros dias do ano e se afogar em bebida e sorrisos superficiais apenas no natal, ano novo e carnaval... Tirando o último os outros dois deviam ser momentos de reflexão que ecoassem ao longo de todos os outros dias do ano.
Carnaval já é para festejar a luxúria mesmo! Não tem jeito!! Hahahaha!!
Passarei sempre aqui e depois vou ler os posts anteriores.

Luya said...

Passei o ano novo em cascadura e para minha surpresa, os fogos que vi foram mt legais. se a gente se livra de preconceitos e rotinas, parece que encherga melhor a vida naum eh verdade?