Ele bem que tentou por anos e anos e bateu na trave.
Leonardo DiCaprio até o momento ganhou quase todos os prêmios que um ator
poderia sonhar, menos o Oscar. Já trabalhou com vários dos melhores diretores
de Hollywood, Scorscese, Spielberg, Cameron e agora, o diretor vencedor do ano
passado pode lhe dar esse passaporte com o filme “O regresso”.
Alejandro Gonzalez Iñárritu gosta de trabalhar com a imagem
das pessoas e o que o dia a dia pode lhes trazer de bom ou ruim. “Amores perros”
foi seu passaporte para o cinema americano e com “Babel”, um bom exercício
sobre etnias, guerras internas e claro, as que vemos nos noticiários. Este
mundo à parte dos telejornais talvez serviu de base para seu filme mais recente
e poucos provavelmente tenham dado conta disso. Por trás da história baseada em
fatos reais de uma vingança que parecia não ter fim, devemos estar sempre
atentos a algo que pouco realmente fazemos: o exercício da tolerância.
Hugh Glass, personagem de DiCaprio, faz parte de uma equipe
de exploradores e comerciantes de peles no velho Missouri. Por um desses “acasos”,
ele tem um filho meio-indígena e sua vivência com os índios o fez ter uma
capacidade ímpar em sobrevivência nas florestas e em situações adversas.
Conhecedor de todas as etnias, de todos os caminhos, ele é um guia a ser
respeitado pelo seu comandante, mas profundamente desvalorizado pelos homens de
“pele branca”. O suficiente para despertar a cobiça, a inveja e a ira de todos,
dentre eles um Tom (Mad Max) Hardy que é capaz de tudo para salvar a própria
pele, inclusive fazer da vida de Glass um inferno.
Após um ataque de uma tribo indígena, toda a equipe se
dispersa. Glass depois é atacado por um urso pardo (isso não é spoiler, pois essa cena todos conhecem e
já considerada uma das mais marcantes da história do cinema). Com a desculpa de
estar praticamente morto e atrasar a vida dos demais, é abandonado pelo
personagem de Hardy e à toda sorte (ou azar mesmo) que um moribundo poderia
passar na floresta gelada.
Claro que a forma com que Glass resolve se levantar e juntar
suas forças para voltar para a sua vingança é que seria um spoiler de verdade e não mais do que isso deve ser contado. Apenas
o suficiente para que DiCaprio, tivesse os prêmios que ganhou até hoje. Logicamente
que ele deve grande parte disso à Iñárritu. “O regresso” tem um movimento quase
que inquieto. A técnica antiga onde nós somos os espectadores, alcança um nível
de excelência, digno dos antigos filmes de faroeste e pena que não dá para ser
exibido em um daqueles cinemas com telas gigantes dos anos 50 e 60. Esqueçam as
salas especiais dos multiplex. Elas
não serviriam para mostrar a amplitude das cenas e os rodeios das steady-cams que Iñárritu empreendeu. Na
verdade, bem que esse filme deveria estar nas mãos do Tarantino, mas certamente
ele não teria essa visão humanista que há por trás de tudo.
A luta entre todas as tribos indígenas dos Estados Unidos, entre
exploradores e índios, homens e mulheres, é no final das contas, o mote do
filme. É o nosso maior exercício saber diferenciar entre eles e nos atuais dias
de redes sociais, como a intolerância nos faz tão selvagens como na América de
séculos atrás. É o exercício que o diretor quer colocar novamente em nossas
cabeças. Poucos notarão esse detalhe que para alguns pode ser apenas um libelo
ao politicamente correto (claro, um filme com muitas cenas de violência pode
servir para isso), pois o inimigo não são as tribos, os brancos e etc., mas o
que carregamos de preconceito para que a nossa vida seja tão infernal quanto à
dos personagens do filme.
Chato é perceber que por apuro visual, “O regresso” é
superior à “Birdman”, o vencedor do ano passado. Por isso todos os prêmios
conquistados até agora e que o fez tornar um favorito, inclusive DiCaprio que
penou o que o diabo amassou no frio e horas e horas de maquiagem para dar mais
veracidade às dores que passou. Mas veja com a calma que as quase duas horas e
meia do filme trazem, que tudo é bem mais do que um daqueles exemplos de
faroeste. Volta e meia os diretores gostam de revisitá-lo com um quê a mais.
Eastwood e o já citado Tarantino já fizeram isso, mas agora cabe ironicamente a
um mexicano colocar mais uma na placa dos memoráveis.
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