Thursday, February 16, 2006

E você, como dorme à noite?


Aloisio Santos _______
Em uma entrevista, anos atrás, o diretor Steven Spielberg não imaginava fazer um filme com violência e matanças. Ele que até então sustentado pelos blockbusters de grande apelo visual e em alta com o público de todas as idades deu como desculpa que queria fazer filmes que pudesse assistir junto com sua própria família. Bastou chegar a hora de “Lista de Schindler” mostrar histórias e dramas durante a 2ª Guerra para que as coisas mudarem de figura. E desde então, ele resolveu intercalar um filme dito sério, com um de entretenimento puro. Daí tem “Munique”. E ao contrário do que muitos pensam, não fala especificamente do massacre de atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos de 1972. O que se passa durante as quase três horas são justamente os contra-ataques nos dias seguintes.
Com um elenco predominante de ingleses, Spielberg conta a história de um grupo que tem a tarefa de eliminar cada um dos 11 responsáveis pelo atentado na Alemanha. E ele faz um grande filme de espionagem, no estilo dos que gostávamos de ver nos anos 70 e 60 em todos os aspectos. Tanto que se não fosse por um ou outro enquadramento e uma guerra entre grupos por um rádio (isso mesmo, um aparelho de rádio), talvez esse não fosse um filme dele. Mas o apuro, os detalhes, a trilha do John Williams, estão todos lá. E este “Munique” é uma mostra que as coisas mudaram pra Spielberg. Mas apenas na forma como ele mostra e conta suas histórias. A questão familiar é o que conta nesse filme. O que faríamos pra defender nossas famílias? E que conceito temos delas? Não importa quais decisões ou visões temos, contanto que possamos simplesmente estar conscientes dos nossos atos e ter uma boa noite de sono, todos os dias.
E os pesadelos do personagem principal vivido por Eric Bana, sobre como foram as horas de desespero na Alemanha, que nos fazem sentir um frio na espinha maior do que os provocados pelo ar condicionado do cinema. E durante o filme se segue a busca por vingança. É claro que a lição de moral sobre ações e reações violentas se mostra presente. Basta criar o mal que ele cresce feito praga e nesse caso, parece não adiantar cortá-lo pela raiz. Pode ser no Oriente Médio, no Haiti, na África ou na Rocinha. Mas independente de quem está (na busca) de razões é o como deitar a cabeça no travesseiro à noite, que move a estória. Acumular todos os seus medos e transformá-los em paranóia é válido para manter o statuo quo de uma nação, um povo, uma família?
Spielberg sabe como conduzir um bom drama e tivemos provas disso várias vezes. “Munique” é mais uma delas. Exceto pelo próprio Bana e sua cara de eterno atormentado que não ajuda. Até Daniel Craig passou no vestibular pro papel de 007 que irá desempenhar. Pois você já viu um filme de espionagem, sem perseguições implacáveis de carros por ruas estreitas e ainda assim ser um filmaço? De qualquer forma, este é um daqueles filmes pra se guardar na prateleira assim que sair o DVD, mesmo que saia de mãos abanando no Oscar. E que venha recheado de extras, claro.

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