Wednesday, February 15, 2006

Filme que faz falta


Aloisio Santos _________
A abertura sóbria remete aos filmes do Woody Allen. Só o título e jazz ao fundo. Quando entram as imagens em preto e branco, o incauto pode pensar que entrou na sala errada. Mas é no decorrer dos poucos mais de 90 minutos de “Boa noite, boa sorte”, que a verborragia e as auto-análises de Allen não têm lugar ali. E você nem notaria que é um filme dirigido por George Clooney, se não já o soubesse antes. É claro que o amigo diretor Steven “Traffic” Soderbergh deu umas aulas e você nota umas assinaturas dele em uma cena ou outra. Mas este filme produzido com modestos 7 milhões de dólares (pelo menos nos padrões hollywoodianos) e era pra ser um documentário anteriormente, teve a acertada idéia de leva-lo como um “filme comum”. O que o tornou mais acessível mostrar uma das inúmeras fases negras da história.
Os americanos parecem sempre movidos pelo terror. Seja pela cabeça do Bush ou por um insano senador de Wisconsin chamado Thomas McCarthy. Basta um republicano achar que alguém invadiu suas terras pra empunhar um bacamarte e mandar chumbo. E é o que motiva o filme. A cruzada do senador contra os que se opunham aos seus ideais de uma América supostamente livre e posteriormente estigmatizado-os de comunistas. Do outro lado, um jornalista de senso incrível de sua função perante a sociedade e aos seus telespectadores, chamado Ed Murrow. Murrow nos anos da tv movida a lenha, tinha um dos programas mais assistidos pelos americanos, o “See it now”, uma espécie de “60 minutes” daquela época. Com uma boa equipe e um ótimo trabalho investigativo, conduzia com maestria seu programa e dava credibilidade à sua imagem e à CBS, que produzia o seu show. No meio de denúncias, réplicas e tréplicas, eles mostram o que todo mundo sabe. Todos temos telhado de vidro. E na luta do bem contra o mal, vence aquele que está sempre a favor da verdade. E quem o faz dessa forma será sempre o Cavaleiro Branco.
Mas o grande trunfo de “Boa noite, boa sorte” (frase com que Ed Murrow finalizava seu programa) está na pesquisa e na fidelidade de se mostrar os “earlies 50’s”. Sempre pincelados com números de blues e jazz a cada situação. O que mostra que grande parte do custo do filme ficou exatamente nessa parte. Ponto pra eles. E também pros atores David Strathairn que faz o papel principal, e de George Clooney, que deixou de lado seus trejeitos de “já tomou seu Toddy hoje, baby?” para fazer o produtor do programa. Ambos indicados ao Oscar pelas suas atuações. E não seria exagero nenhum se um deles levasse o prêmio pra casa.
De qualquer maneira, “Boa noite, boa sorte” é um daqueles filmes obrigatórios tanto pra quem faz uma faculdade da área de humanas (os jornalistas estão dando pulos até hoje por isso), quanto para aquela turma de colégio que tem um dia pro cineminha na sala de áudio visual indicada pelo professor de história. Eles precisarão bastante disso. Que digam os alunos de cinema sentados ao meu lado, que se perguntavam a certa altura, quem era Ava Gardner.

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