Thursday, February 15, 2007

Perdeu-se na tradução.


Aloisio Santos ________

Foi com grande surpresa que o filme “Babel”, do incensado diretor mexicano Alexandro Iñarritu (de “Amores Brutos” e “21 gramas”) levou o prêmio máximo do Globo de Ouro desse ano. Mas porque a surpresa? Simples. De várias indicações aos prêmios da noite, não levara nenhum e no momento do anúncio, Scorcese já confiante, abotoava o smoking pra subir ao palco de novo pelo seu “Os infiltrados”. De certa forma foi uma reedição do que aconteceu no Oscar do ano passado com o filme “Crash”.

Mas aí mora a grande diferença. “Crash” é realmente um grande filme, enquanto “Babel” tem de grandioso apenas 25 minutos a mais na média de duração de um filme de cinema. O impacto do vencedor do Oscar do ano passado foi tão grande que fez com que pensassem o seguinte: No filme de 2005, havia o relato de todas as raças e etnias, assim como seus conflitos diários na louca cidade de Los Angeles. E a fórmula deu certo. Que tal se fizermos o mesmo, mas através de uma visão literalmente global? E por conseqüência maior? Vai ser um estrondo - pensaram os produtores. Sendo assim, mãos à obra. O grande problema é que nessa Babel, algo se perdeu na tradução. Ou seja, no roteiro. De todas as histórias isoladas que se intercalavam no filme (já está se tornando um método batido de se fazer roteiros), apenas a da japonesa surda tem verossimilhança e impacto desejado. As demais histórias lembram antigos episódios de desenhos animados onde se para resolver as confusões, se criam outras e aí se instaura a bola de neve. Afinal que casal vai tentar uma reconciliação numa viagem-excursão para um país em pé de guerra? Que imigrante ilegal faria a besteira que fez no filme? A dos irmãos briguentos tem lá o se mérito por mostrar coisas de sua cultura que os noticiários não apresentam. Atuações à parte, vemos um Brad Pitt sem maquiagem, mas com os mesmos trejeitos de sempre. Mesmo assim consegue uma atuação tão boa desde “12 Macacos” e Cate Blanchett dá o seu banho de costume. A tal japonesa e a mexicana desesperada ganharam indicações por suas atuações, mas pelos comentários, os prêmios para atores e atrizes já têm os seus donos.

No mais, uma boa edição tenta render o filme de forma menos sonífera possível. E Inarritu repete o bom trabalho que fez em “21 gramas”. A câmera inquieta (outro artifício já um tanto batido) mostra nuances como apenas ele parece fazer e as experiências sensoriais da japonesa são exepcionalmente demonstradas, como na cena da balada (eita termo desgraçado esse!). É um bom filme, embora um tanto esquecível. Digamos que o impacto já foi feito e por isso a impressão de que “Babel” é só mais um do gênero nos vém à cabeça logo ao sair da sala.

1 comment:

Bianca Dramali said...

Acrescentaria uma palavra à sua sinopse: angustiante. E essa parece ser uma característica dos filmes de Iñarritu. Tanto em "21 gramas", quanto "Questão de Vida" ("Amores Brutos" ainda não vi, acredita?!) ele traz essa tônica de mexer com nossa zona de conforto. bjs.