Monday, February 19, 2007

Tá pensando que é a Rainha da Inglaterra?


Aloisio Santos__________

Ao chegar no ótimo Estação Ipanema para ver “A Rainha” de Stephen Frears (sim, eu também confundo com os ingleses Stephen Fry e Stephen Rea), tive a impressão de estar em duas situações. Um: Num congresso sobre geriatria, pois provavelmente eu era o único com menos de 40 anos na sala. Dois: Numa convenção de sósias da Rainha Elizabeth, pois todas eram senhorinhas que mesmo nos primeiros minutos do filme não paravam de fofocar das vidas alheias. E pensar que elas, 20 anos atrás, nos mandavam calar a boca no cinema. Elas precisam de um poço da rígida educação britânica. E justamente nesses primeiros minutos, ainda com o letreiro incial, a pose da atriz principal Hellen Mirren como num retrato oficial não deixa dúvidas a que ela veio. “É ela!” – dizem. Até a logo do filme é igual ao do grupo do Freddie Mercury. E geralmente em situações de extrema coincidência estética e de interpretação nos dão conta pra quem vai o prêmio por atuação no ano.

Mas esse tipicamente filme inglês mostra o início do governo do então moderno Tony Blair e a semana que se sucedeu à morte da Princesa Diana. Os bastidores desses dois governos. Comportamentos, atitudes, interesses e como uma das instituições britânicas mais veneradas desde o futebol e o sistema de transportes, lidou com o fato. Mas graças ao elenco de peso que tinha James Cromwell num auxílio luxuoso, um Tony Blair perfeito e uma Mirren que meses antes encarnou a Rainha-mãe, tornou tudo perfeito. Apenas a Rainha-mãe desse filme não tinha a aparência exata, mas incorporou bem a sábia e simpática pé-de-cana real.

A grande sacada deste “A Rainha” não é somente mostrar que Elizabeth é de fato a mão de ferro da família, nem um Primeiro Ministro querendo mostrar serviço (como sempre), mas em pequenas surpresas como ver uma idosa mandatária real de um país encara,r um Land Rover numa trilha esburacada, com a desenvoltura de um marine americano e ao mesmo tempo ter seu momento de ternura ao maravilhar a natureza. E claro, a velha troca de farpas entre o Parlamento e a Família Real, que sempre fez questão de mostrar que a Princesa do Povo era apenas mais uma dentre tantas infâmias que a história da realeza britânica nos mostrou. Também, quem manda ter príncipes patetas a cada geração?

Hollywood gosta de dar sua fatia de bolo às produções da Grã Bretanha, laureando com indicações, mas notadamente não são os maiores vencedores, o que demonstra que os americanos querem mostrar que o santo de casa deles, faz milagres. E melhor do que todos. Mas há de convir que aqueles de formação Shakespeariana são melhores do que os do Actors Studio em léguas de distância. E geralmente resultam em filmes mornos e lentos em narrativa em detrimento a um visual de pesquisa muito bem apurado. Mas não é este o caso de “A Rainha” que fez um bom pacote em tudo. Pena, que bairrismos à parte levam apenas o Bafta – a premiação máxima do cinema na Inglaterra. Mas que Mirren é ela, isso é verdade. E estejam certos de que perguntarem “Quem você pensa que é, a Rainha da Inglaterra?” em razão da sua audácia de encarnar mãe e filha em filmes diferentes, ela certamente dirá sim e dará as costas a todos, com a famosa atitude de uma realeza britânica.

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