Tuesday, December 06, 2005

Acho que estou velho...


Aloisio________
Pegar o metrô num Domingo é algo engraçado. Estava na direção contrária aos que voltavam da praia para o subúrbio, pois acabava de sair de um churrasco. Mas antes, uma pessoa me mostrava uma pequena casa uma quatro quadras adiante:
- Tá vendo aquela casa ali embaixo? Foi lá onde acontceu a parada...
Ele se referia à tragedia do ônibus 350, a do incêndio. Agora se pensarmos bem, a próxima tragédia deve ser no ônibus 700. É só seguir essa razão... Primeiro foi o 175 e agora o 350. O próximo será o 700 provavelmente. E fiquei me indagando sobre a psique humana. Sobre o que se passa na cabeça de uma garota de 13 anos, que simplesmente vê o desespero das pessoas lá dentro e contribui para que isso aumente ainda mais, deixando-os morrer lá dentro e vai dormir em casa, como se nada tivesse acontecido.
Mas voltando ao metrô, notei que estava cheio demais para a hora e direção que seguia. Na maioria jovens. Os mais velhos tinham uns 25 anos no máximo e iam para alguma celebração. Lembrei-me que a Praça da Apoteose receberia o Pearl Jam, após uma espera dos fãs deste grupo grunge de 15 anos. E isso me despertou outra curiosidade. Como pode um garoto de no máximo 25 anos esperar 15 por um grupo de rock? Ele ouvia Pearl Jam aos 10? Sabia o que isso significava pra vida dele? Acho que não. Pelo menos tomando-se por exemplo, o meu caso.
Estava no meu 2° período da faculdade. E uma amiga de Niterói, queixava-se de não conseguir mais encontrar o álbum de estréia ("Ten") do grupo em lugar nenhum. Ofereci-me a comprar aqui em Copacabana se ela deixasse que eu fizesse uma cópia em K7 (Ainda se fazia cópias em fitas em 1992). E ao escutar todas as faixas senti uma grande porrada no peito pela fúria do som. Não que a mente ou sua psique fosse perturbada o suficiente pra determinar o nível da pancadaria sonora. Era garra mesmo. Gostei do que ouvi. Mas lembro também que o estilo musical não me atraía totalmente. Tinha simpatia pelo Soundgarden que era bem parecido com o Black Sabbath. Não gostava da prepotência do Nirvana e achava que o Alice in Chains seria passageiro, como realmente o foi. Como todo o grunge em si. Afinal eram grupos que só falavam de neuroses, chateações e males da mente humana. Sem contar aquelas camisas xadrez por cima. Isso eu já fazia 6 anos atrás quando era headbanger (ops! metaleiro). E eram muito depressivos. Talvez seja pelo efeito de estarem em Seattle, uma cidade que chove o tempo todo, sei lá. E eram talvez o primeiro estilo musical a ganhar destaque no mundo graças à MTV (dispensando o new-wave dos 80, já que a emissora estava nos seus primeiros anos e muitos produtores ainda não viam com olhos alegres o uso do vídeoclipe como forma de divulgação. Basta notar que o 1° clipe a ser exibido tinha uma música com o nome "Video killed the radio star"). Sendo assim, nenhuma forma ou sub-divisão do rock seria de se levar a sério. Mas com o Pearl Jam era diferente. Eles tinham aquele toque de rebeldia que vai além dos distúrbios da mente. Eles mostravam elos entre causa e conseqüência destes distúrbios num mundo que se globalizava e se engolia a cada minuto. Eram politizados enfim, sem serem chatos.
Não fui ao show por vários motivos. Simpatizava-me pelo grupo, mas não o suficiente pra gastar R$120 com eles. Se fossem em 1992, até faria um esforço. Devo estar velho demais pra isso. Ainda espero um dia ver o Pink Floyd tocando pra mais de 100.000 pessoas. Ou então estivesse perturbado ainda com a idéia de que a molecada que se junta em mais de 40.000, pode ser a mesma que não deixa você sair do ônibus e pratica um ato terrorista. Para isso não precisa se juntar, basta ter a mente insana daqueles que sempre reclamavam que ela não batia bem. Que o digam o Kurt Cobain e o vocalista do Alice in Chains, que acabaram com o sofrimento tirando suas próprias vidas. De qualquer forma, volto pra casa olhando aquela muvuca descer na estação da Praça Onze com um leve ar nostálgico de quem já praticou esse ritual dezenas de vezes. Seja qual for o estilo é bem melhor deixá-los praticar essa forma de expressão. Vão voltar para suas casas são e salvos e de alma lavada por um momento verem seus ídolos. Mesmo que não tenham a total idéia do que representam ou representaram historicamente. Querem apenas não ser mentalmente perturbados.

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