Wednesday, December 14, 2005

Eu bem que falei...

Aloísio Santos _______________
Podem dizer que o Globo de Ouro não é lá grandes coisas. “Uma indicação ao Globo de Ouro? Pra mim Grobo de Ouro é aquele pograma que passava na TV nos anos 80...”. Ou então que é uma “prévia do Oscar”, ou “sinônimo mal feito de uma premiação xumbrega hollywoodiana”. Mas quem fala dessa forma talvez não tenha idéia que a premiação do Globo de Ouro é feita por jornalistas de todo o mundo especializados em cinema. Se eles são especializados em cinema isso não é relevante. Afinal, crítico de cinema é feito um bundão. Todos temos ou somos um pouco.

Mas não custa dizer que não avisei. Um dos meus três melhores filmes do ano (junto com “O Senhor das Armas” e “Em busca da terra do Nunca”), “O Jardineiro Fiel” de Fernando “Cidade de Deus” Meirelles, ganhou 3 indicações. Melhor filme, diretor e atriz-coadjvante. É claro que três significa muita coisa, principalmente se considerarmos que seu concorrente direto é um filme sobre um romance cowboy gay do Ang Lee, que ao meu ver só vai levar as indicações pra todo mundo ver que americano também pode dar uma de liberal.

O que importa é que o ótimo filme do Fernando Meirelles, mostra que o dever de casa foi mais que bem feito. Ganhou uma boa nota e uma estrelinha pra passar de ano sem o caos das provas finais. Essa é a primeira incursão no esquemão do cinema de Meirelles. E ele faz questão de frisar que quer fazer um cinema nacional para que todos vejam. Isso quer dizer, com grana e produção de fora, se necessário. Afinal, não dá pra se viver de cinema no Brasil somente da Globo Filmes e suas versões multiplex de seriados e de pequenos núcleos regionais (como a incrível Casa de Cinema de Porto Alegre). Até que se consegue um Kikito aqui, outro prêmio em Lichenstein. Mas brasileiro é como um sofredor de Copa do Mundo. Quer ver ganhar e bonito. E nosso cinema tem capacidade pra isso. É só aparecer um Walter Salles e um Fernando Meirelles pra provar que se Elvis morreu, Glauber Rocha já vai tarde.

“O Jardineiro Fiel” mostra com competência, que a crueldade humana não está apenas na esquina por onde o ônibus 350 passa, ou numa mesquita no Oriente Médio. Está como todos sabemos, na África. O continente esquecido pelos deuses e humanos. Isso todos sabemos também, apenas as dimensões não nos são exatas. E Fernando Meirelles usou a experiência adquirida no “Cidade de Deus” para fazer um filme ao mesmo tempo cru, sem ser de todo poeira. Não é estilização da miséria como diriam alguns. É colocar em imagens o que não gostaríamos de fato ver, mas devemos. É claro que tem uma história de amor de fundo, mas é tão de fundo que uma sinopse seria simplista demais ao dizer que o filme se trata da busca do marido, por respostas à respeito de sua mulher assassinada.

É provável que no final das contas das premiações, vamos nos decepcionar mais uma vez ao ver que esse caneco não veio pro Brasil. Tanto que vejo correndo por fora, o novo do Spielberg – “Munique”, que fala dos atentados durante às Olimpíadas de 72. Mas seria um bom tapa com luva de pelica de Meirelles, ao mostrar que o cinema nacional pode sim ser cosmopolita e deixar esse ranço de que os nossos filmes são como alguns produtos agrícolas de exportação. Melhor produzidos e consumidos aqui. Aproveitem que “Jardineiro Fiel” saiu em DVD e confiram um filme que merecidamente deveria ter mais de 5 milhões de espectadores e feito por um brasileiro.

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