Wednesday, February 16, 2011

Conforme diz a música


Aloisio Santos ____ Quem vive do lado de baixo do Equador já ouviu milhões de vezes aquele cantor que só sabe se vestir de azul e que gostaria ter um milhão de amigos, só para continuar a cantar. Quem não gostaria de ter um milhão de amigos? Pensando bem, seria demais. Uns dez, desde que sinceros e que você possa realmente chamar de amigo ou quase irmão, já está de bom tamanho. E isso não era algo difícil de conseguir a uns dez anos atrás. Para quem tem pelos menos uns “enta” anos e viveu a fase da comunicação por orelhão de rua na base da fichinha, passeava mais, brincava mais, festejava mais, curtia mais a vida e por conseqüência, ter quem o acompanhasse nessas aventuras era o fator natural das coisas. Sabe aquela máxima: “Eu era feliz e não sabia”? Pode estar bem certo que vendo o rumo dos acontecimentos hoje em dia, já se deu conta dessa felicidade nostálgica, principalmente porque para o bem e para o mal, a internet nos aproximou e ao mesmo tempo nos afastou ao encaixotar cada um de nós em nossos modems. Pois bem, toda essa filosofia de barzinho é para falar de “A Rede Social”.

O filme é baseado em toda a história que envolveu a criação do Facebook, a rede social mais influente em todo o mundo e que cresce a cada dia. O instrumento partiu da cabeça do estudante de Harvard, Mark Zuckerberg. Um total mind-freak, um nerd por excelência. Não perguntem como essa figura tinha uma namorada no campus, tanto que levou um pé atrás e a cena inicial do filme é exatamente a verborragia que detonou a relação dos dois. O roteirista teve que fazer tudo parecer como narração de corrida de cavalos, talvez para mostrar o quão inteligentes sejam os personagens. Tanto que o Zuckerberg da vida real é inteligente, mas não aparenta precisar desse poder mágico para demonstrar alguma coisa. A boa mão do diretor David Fincher que nos presenteou com o insólito “Clube da Luta” e com o instigante “Seven”, delineou o que viria pela frente. Claro que o nerd resolveu contra atacar com aquela brincadeira de barbado de dar notas e comentários a cada uma da mulherada da faculdade. A coisa tomou um tamanho maior do esperado e num piscar de olhos, várias outras universidades já queriam ter a versão mais chic, complexa e inteligente do Orkut para ampliar o seu networking (palavra pentelha para “círculo de amizades”).

Para isso, o personagem interpretado num estilo quase andróide por Jesse Eisenberg, precisa de amigos reais para tocar o negócio. Aí dois gêmeos queridinhos de Harvard e um brasileiro, interpretado pelo novo Spider Man – Andrew Garfield e até um Justin Timberlake fazendo o criador do Napster (essa é para quem tem mais de 15 anos, não pergunte) são angariados nessa luta que chegou aos tribunais para ver quem é o pai da criança. Afinal, pais precisam dizer que são os criadores e inclusive nos litígios para ver de quem é a herança. Muito bla bla bla, alfinetadas, desvios e exageros de conduta e se chega a conclusão o que muitos já sabem, como Mario Puzo deixou descrito uma vez: “Por trás de toda fortuna tem um crime”. Não um que te leve à cadeia, mas que o faça perder o sono e pensar no que fez de sua vida miserável para chegar a esse ponto. Se realmente vale a pena tanto para tão pouco? Pois essa é uma das perguntas que assola o mundo conectado de hoje e que faz com que todos queiram tudo ao mesmo tempo sem que haja tempo e vida para acompanhar o ritmo como deve ser. Neste caso, os “amigos de verdade”.

Fincher saiu da direção de clipes como o premiadíssimo e belo “Vogue”, para usar essa linguagem em seus filmes. Claro que, para isso, bons roteiros são necessários e isso ele tem nesse “A rede social”. Muita agilidade para mostrar como as coisas acontecem online para fazer deste filme um produto com oito indicações ao Oscar e diversos prêmios pelo mundo, dentre eles o Globo de Ouro e a credencial a um dos favoritos ao título do ano pela Academia. Terá forte concorrência com o “Discurso do Rei”, mas há uma possibilidade bem grande dos votantes apelarem pela lição de moral do filme que está bem escondida nas entrelinhas. E olha que para quem enxerga tudo na velocidade de uma transmissão de dados, via fibra ótica, é quase imperceptível. Depois só não pergunte porque você não tem amigos reais.

2 comments:

Kadu Silva said...

Nunca consegui comentar nenhuma das suas resenhas, mas esse texto da A rede social ficou excelente.
Parabéns!
Sou fã da direção de Fincher e ele acertou novamente nesse filme.

NO BUTECO said...

Olá meu caro Kadu, que pena que não conseguiu comentar nas demais resenhas. Realmente não sei o que pode ter acontecido.
Mesmo assim fico bem feliz que tem acompanhado os textos e principalmente gostou de alguma delas, fique sempre à vontade. Quem sabe com esse bom incentivo deixo de ser mais bissexto nas minhas postagens.
Gde abs