Saturday, February 12, 2011

Tempo que voa


Aloisio Santos Um dia desses me peguei vendo desenhos antigos do Tom & Jerry. Aqueles da fase MGM dos anos 50 na TV e notei como a minha infância (calma, não sou dos anos 50, sou de 1968...) tinha um quê de magia bem antes da TV a cabo, dos celulares e da internet. Eu assistia esses desenhos no cinema. Imaginem ver o melhor da animação em telas pelo menos três vezes maiores do que as do multiplex de hoje? Era um bom motivo para os nossos pais acordarem mais cedo aos domingos e fazer a vida valer à pena. Brincadeiras na rua, o lúdico sempre a cada uma delas e imaginação solta até com bola de meia para se sentir o maior jogador de futebol de todos os tempos. Esse é o espírito que “Toy Story 3” quer imprimir. Fazer a vida valer à pena e que o tempo não pode nunca deixar aquela criança que habita em nossos corações (pode parecer clichê, mas é), adormecer.

A história dessa terceira aventura de Woody e Buzz se passa 10 anos depois da aventura anterior e o dono de todos os brinquedos dessa franquia tem agora idade para ir para a faculdade. Isso para os americanos é mais do que uma conquista academica. É um verdadeiro ritual de passagem para a vida adulta. Eles deixam a casa dos pais para seguir com o primeiro passo para o resto de suas vidas. Logicamente os brinquedos de Woody se vêem novamente na iminência de não serem mais desejados pelo dono e o pior, correndo o risco de se separarem uns dos outros. Nessa empreitada, passam bons e maus bocados em uma creche com brinquedos que também sofrem seus dramas de abandono. Mas o mais importante desse provável último filme da franquia é que além do avanço tecnológico na qual eles foram pioneiros, é tratar os brinquedos de uma forma ainda mais humana. Na verdade, esse é um filme para adultos, pois toca em um fator que todos parecem esquecer e deixar morrer a cada dia – a sua própria infância. Talvez por isso mesmo, seja o mais adorável dos três filmes e por conseqüência, merecedor de dupla indicação: a de melhor filme e de animação. Um feito e tanto para fechar com chave de ouro essa trilogia. Não há como não rir com as gags praticamente óbvias entre a Barbie e o Ken e também não se encantar com brinquedos que a garotada de hoje não tem a menor idéia de que um dia foram motivo de alegria de outras, há 30 anos, como o telefone-sorridente e a boneca que tinha como único grande artifício, abrir e fechar os olhos. Dessa vez não apenas as neuras de serem abandonados, fazem parte desses brinquedos. Eles tem mais movimentos e ações. Muito mais independência, fazendo uma grande aventura, mais ágil e mais complexa do que os anteriores.

A parceria Disney/Pixar, desde “Os incríveis”, tem realizado produções mais atraentes para adultos, sem perder a ternura e o padrão “Mickey” de qualidade, que faz as vendas de quinquilharias relacionadas aos filmes encherem as prateleiras, mas essa já conseguiu o seu quinhão. Bilheterias gigantescas, boas críticas e provavelmente o Oscar de animação garantido, o que faz com que a indicação ao prêmio principal, seja um presente a mais. Outros considerariam essa indicação, algo como inclusão por cotas devido ao aumento de cinco para dez filmes atualmente, mas sinceramente “TS3” tem por merecimento a sua participação na disputa. Uma ode à brincadeira inocente, independente dos artifícios eletrônicos que deixam a imaginação infantil morrer cada vez mais e mais a cada dia.

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