Monday, February 14, 2011

Entre o real e o imaginário (de novo)


Aloisio Santos Um dos grandes trunfos do cinema hollywoodiano é trazer ao público de todos os cantos do mundo, um mundo de ilusão e de fantasia. Fascínio que tomou conta logo no começo da II Guerra Mundial. A sétima arte sempre soube se reinventar quando novas mídias se apresentaram. Primeiro com a TV, depois os VCRs e DVDs e agora a internet. Não há melhor meio capaz de transportar nossas mentes e emoções de uma maneira tão intensa e principalmente depois de “2001, uma odisséia no espaço” o impossível tornou-se viável por mais fantasioso que possa parecer. Logo depois, esse gênero explodiu com “Star Wars” e propagado pelo mundo imaginado pela dupla Lucas e Spielberg, que além de bons contadores de histórias, também tinham o dom de aliar bons roteiros a boas imagens. Contos para serem contados por gerações. Mas porque todo esse comentário se o filme em questão é um dos melhores, senão o melhor filme de 2010, “A Origem” de Christopher Nolan?

Simples, Nolan é um ótimo contador de histórias. Quem viu “Amnésia”, sabe o que isso quer dizer. E como bom cineasta que é, soube aliar um roteiro nada linear a uma formatação final surpreendente, feito com pouquíssima grana para os padrões americanos e com imediata adoração, já se tornou cultuado. Entre seus 10 filmes realizados até agora apenas, conseguiu dar o fôlego e fidelidade do herói da DC Comics, Batman, nos fazendo esquecer praticamente as versões anteriores. Por essas e outras, que ele fez deste indicado ao Oscar, um filme de ficar travado na poltrona a cada segundo, sob o risco de perder o fio da meada com um breve piscar de olhos. Mas tudo parece simples de entendimento ao ler apenas a sinopse: “Em um mundo onde a tecnologia existe para entrar na mente humana através da invasão de sonhos, a um ladrão altamente qualificado, é dada uma última chance de redenção, que envolve a execução de sua tarefa mais difícil até então”*. Pode parecer um simples filme de ação com muitos efeitos, mas quando se trata de um diretor como Nolan, claro que as coisas mudam de figura.

Esse é um filme antes de tudo, feito para aficionados por ficção, por ação, por artes (em muito, as tomadas que contrariam o real, tem uma grande inspiração no mestre M.C.Escher – quem estiver no Rio pode conferir a sua mostra no CCBB e assinar embaixo) e para os nerds de plantão. E tudo isso misturado para servir de assunto para ficar por horas, discutido com os amigos, cada detalhe e cada cena. Por falar em cenas e detalhes, o troca-troca das seqüências dos múltiplos planos imaginários e mentais é o ponto alto deste filme sensacional. O suficiente para fazer com que versões com todos os planos ao mesmo tempo, já pipoquem pela rede. Uma forma para que os não iniciados pudessem entender o que está acontecendo. Nolan consegue tirar o máximo do seu elenco que tem surpresas como Lukas Hass (o menino de “A Testemunha”), Joseph Gordon-Levitt (que saiu da tv para se dar bem em “500 dias com ela”) e até um improvável Di Caprio deixando de ser Di Caprio, como em seus demais filmes e de quebra tem Tom Berenger, Marion Cotillard e Ken Watanabe, incríveis.

Infelizmente, “A Origem” saiu dos Globos de Ouro sem nada para contar história, mas nas demais premiações, este filme conseguiu abocanhar os de melhor roteiro, efeitos e direção, além de trilha sonora. Infelizmente também, a Academia costuma torcer o nariz para os trabalhos que tenham aquele toque que o classificam como “ficção-científica” ou “fantasia”, nas prateleiras de DVDs e provavelmente Nolan corre grave risco de não levar nenhum dos oito Oscars a que está indicado. Talvez o de Direção de Arte, o de Roteiro Original ou os de edição de som. A história dos Oscars já fez essa maldade com “Blade Runner”, só para terem uma idéia, mas para todos nós, “A Origem” é um daqueles filmes obrigatórios por muitos anos daqui para frente.

* (extraído do imdb.com)

1 comment:

MÔNICA said...

COMO SEMPRE, UMA ANÁLISE INTELIGENTE DE TUDO QUE VC VÊ... NERD